quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Mais de 2 milhões de portugueses viviam em risco de pobreza em 2010.


O risco de pobreza é maior em Portugal que no resto da Europa: em 2010, um em cada quatro portugueses vivia ameaçado de pobreza ou de exclusão social. Apesar de na Europa o risco também se ter agravado entre 2009 e 2010 – a média da União Europeia (UE) a 27 situou-se nos 23,4% –, em Portugal, diz o Eurostat, os números ultrapassaram os 25%.
De acordo com os números do gabinete de estatísticas da UE, 25,3% dos portugueses viveram ameaçados de pobreza no ano de 2010, mais 0,4% que em 2009. Ao todo, na UE, 115 milhões de pessoas viveram em risco de pobreza.
Em Portugal, esse risco atingiu 2,6 milhões de cidadãos e foi muito mais acentuado entre os jovens: 28,7% dos portugueses até aos 17 anos, tal como os gregos, vivem com esse fardo. O risco de pobreza desce entre a população entre os 18 e os 64 (24,1%) e volta a subir ligeiramente entre os idosos (26,1%). Recorde-se que em Portugal há um milhão de idosos a viver com menos de 280 euros por mês.
Os números não surpreendem Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas portuguesa: “Já há algum tempo que digo que as medidas tomadas pelo governo foram as que disfarçaram os números de 2008, quando a taxa de pobreza desceu para os 17,8%. Basta que se tomem outras medidas ou que o desemprego aumente para se deitar abaixo o trabalho feito.”

Quem lida com a população mais carenciada teme que a ameaça de pobreza venha a assombrar muito mais portugueses, já que o cálculo de 2010 foi feito de acordo com os rendimentos de 2009 e o desemprego demora algum tempo a reflectir-se nos agregados familiares. “Estes números não são reais”, lembra Eugénio Fonseca, a quem a experiência no terreno diz que os factores que mais contribuem para a pobreza são o desemprego e a precariedade no trabalho.

Além disso, “as estatísticas são muito vulneráveis”. “Há pessoas que já não procuram os centros de emprego, aqueles a quem chamo os desiludidos com o mercado de trabalho e aqueles que não entram nas estatísticas, porque já perderam o direito ao subsídio ou porque fizeram umas horas de trabalho.”

À Cáritas, os pedidos de ajuda não param de chegar. “Só temos possibilidade de ajudar nas necessidades básicas: que não passem fome, que tenham medicamentos e que não percam a casa. E neste campo a nossa ajuda é a demora dos tribunais. Caso contrário, haveria muito mais pessoas sem casa e a dormir nas ruas”, alerta o presidente da Cáritas.

Critérios O Eurostat considera que vivem em risco de pobreza os que têm rendimentos 60% inferiores à média nacional, os que suportam uma “grave privação material” e estão impedidos de pagar a renda de uma casa ou adquirir bens básicos e ainda aqueles que utilizaram menos de 20% do seu potencial de trabalho no último ano, à excepção dos estudantes.

Espanha está entre os países onde a ameaça de pobreza mais aumentou, sendo o oitavo país em maior risco: 11,5 milhões de espanhóis foram atingidos em 2010. Bulgária (42%), Roménia (41%) e Letónia (38%) são os países em pior situação; República Checa (14%), Suécia e Holanda (ambos com 15%), Áustria, Finlândia e Luxemburgo (com 17%) são os locais da Europa onde o risco de pobreza é menor de acordo com os indicadores ontem divulgados em Bruxelas

Sílvia Caneco, Jornal I

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