segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Mensagem de boas festas!



Estamos prestes a celebrar mais um Natal, Festa da Família e data propícia à manifestação de sentimentos de solidariedade e apelos à concórdia entre as pessoas e entre os povos.

Neste contexto, não é demais salientar a função da família que se reafirma como núcleo fundamental da nossa sociedade.
Porém, é nos tempos mais difíceis que os laços afectivos e de solidariedade se tornam imprescindíveis para atenuar situações graves de carência económica e social.
O sentimento de Natal obriga-nos a reflectir sobre as graves desigualdades que marcam a nossa sociedade. Nestes tempos de austeridade, em que os níveis de pobreza não param de aumentar, não podemos esquecer os que não têm meios para usufruir de uma vida digna, alguns não auferindo sequer os mínimos que assegurem a sua sobrevivência. Não podemos deixar de nos orientar por um objectivo de maior justiça social e de lutar para uma maior equidade na redistribuição da riqueza.
Convém, mais uma vez considerarmos quanto é fundamental, a nível da formação e da educação ao longo da vida, um reforço dos valores civilizacionais de desenvolvimento pessoal e social que estão na base de uma sociedade mais humanizada.
A situação económica do nosso país é muito grave e os políticos, aos vários níveis, não devem esquecer que a sua função é tomar decisões e lutar para assegurar um desenvolvimento sustentado às pessoas e aos seus territórios. E isto ainda se torna mais importante quando se trata de uma relação de grande proximidade, como acontece no poder local.
Dadas as dificuldades que nos aguardam no próximo ano de 2014, cabe a todos e a cada um, contribuir com o seu trabalho e determinação para construir um futuro próximo com mais esperança no desenvolvimento económico e social. Neste final de ano, cabe-nos sublinhar a intenção de continuar a ter sempre presente o desenvolvimento da Amoreira. As nossas propostas para o ano de 2014 são prova disso!
Os eleitos do Partido Socialista na Assembleia de Freguesia desejam, em particular a todos membros desta Assembleia e do Executivo da Freguesia e, em geral, a todas as famílias amoreirenses um Feliz Natal 2013 e um Bom Ano de 2014. Boas Festas

Plataforma Amoreira Um Novo Rumo



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

África do Sul. O prisioneiro 46 664 livre para entrar na eternidade!


Zuma fez o anúncio na televisão estatal, deixando um apelo à unidade dos sul-africanos na despedida a Nélson Mandela

Nelson Mandela morreu pacificamente às 20h50, menos duas horas em Lisboa, na sua casa em Joanesburgo, África do Sul. Mandela tinha 95 anos, completados a 18 Julho, na sua casa, para onde foi levado em Setembro, após quase três meses de internamento hospitalar em Pretória devido a uma grave infecção pulmonar.  O antigo prisioneiro número 46 664 da ilha prisão de Roben Island agonizou corajosamente durante meses no seu leito de morte, antes de ficar finalmente livre para entrar na eternidade. O anúncio da morte de Mandela foi feito pelo presidente sul-africano Jacob Zuma, vestido com uma camisa preta, num depoimento para a televisão estatal: “A nossa nação perdeu o seu filho mais importante”. 

Zuma dirigiu-se aos sul-africanos referindo que “Mandela uniu-nos e é unidos que nos devemos despedir dele”. Apesar deste apelo à unidade, o internamento de Mandela esteve envolto num circo mediático montado junto ao hospital onde o ex-chefe de Estado esteve internado em Pretória e a presença oportunista de inúmeras personalidades políticas que rodeavam o paciente manteve-se quase até ao fim e passou mesmo para dentro da própria casa, com os herdeiros a digladiarem-se numa guerra suja pela partilha dos seus bens.
Mandela já não se terá apercebido desta luta travada pelos descendentes do seu primeiro casamento, filhas e netos, e destes contra a sua última mulher, Graça Machel, o foco principal do ódio e ressentimento dos herdeiros de Mandela.

Duas de três filhas de Mandela, no total teve seis filhos de três casamentos, Makaziwe e Zenani, intentaram uma acção judicial contra um grupo de advogados nomeados pelo pai para dirigirem duas empresas cujo objectivo é acumular dinheiro para os seus herdeiros. De forma intencional, Mandela decidiu não permitir que a família exercesse o controlo destas e de outras empresas patrimoniais. No entanto, duas irmãs,  apoiadas por outros membros da família, tentam por todos os meios, e contra os desejos expressos pelo pai, obter o controlo das referidas empresas. 

As filhas do Prémio Nobel da Paz e primeiro presidente negro da História sul-africana recorreram aos tribunais pedindo acesso a uma parte da sua fortuna pessoal. Madiba havia-lhes negado tal direito em 2008, quando despediu um advogado que alegadamente facilitava o acesso das suas contas às filhas, substituindo-o na condução da fundação com o seu nome por dois homens de confiança, o advogado George Bizos e Tokyo Sexwale, actual membro do governo.

Enquanto os herdeiros aguardavam avidamente o momento das partilhas, durante algum tempo houve discussões públicas sobre a decisão de desligar os aparelhos vitais que mantinham vivo o pai da pátria. Desde logo, o governo quis capitalizar o efeito político Mandela e sempre temeu distúrbios após o seu desaparecimento.
  
Muitos sul-africanos defenderam logo que Madiba foi internado que tinha chegado a hora da nação se preparar para o deixar partir em paz, enquanto alguns membros da sua família eram fortemente criticados por se preocuparem exclusivamente com a partilha do seu património.  “As pessoas estão profundamente perturbadas com a mesquinhez de alguns dos seus familiares”, denunciou, em certa altura, a professora Sarah Nutall ao jornal Today. “Ao contrário de Martin Luther King e de Gandhi, ele não foi assassinado. Deveríamos ter-lhe dado a oportunidade de morrer em paz”, sublinhou. Os políticos do CongressoNacional Africano (ANC) no poder sempre temeram que Mandela desaparecesse antes das eleições de 2014, com receio de que isso pudesse ter algum impacto negativo no resultado eleitoral. Mandela congregava tudo e todos. Muitos dos seus familiares e líderes de variadas procedências viviam praticamente à sombra do seu legado. Talvez isso fosse resultado do verdadeiro passe de mágica que realizou quando, em 1994, juntou no novo hino nacional duas músicas estruturalmente antagónicas: o hino nacional da África do Sul do apartheid, The Call (O apelo) e o do ANC, Nkosi Sikelel Africa, (Deus Abençoe África) para criar uma nova harmonia musical e racial.

O país do arco-íris, um conceito inventado pelo arcebispo Desmond Tutu, ainda é hoje uma miragem, numa certa África do Sul mergulhada na violência e na corrupção, mas é um sonho de Mandela e, como todos os sonhos, é passível de se realizar, desde que os homens o queiram.
Hoje, o novo dia na África do Sul será de dor e tristeza profunda marcado pela certeza absoluta da incapacidade de se conseguir encontrar uma referência nacional com a grandeza humana de Mandela. Para os sul-africanos, e para o mundo, resta o privilégio de se ter podido conhecer um ser humano excepcional.
Graça Machel, viúva pela segunda vez de um presidente da República, deve ter-se sentido a pessoa mais infeliz do mundo, com a perseguição que as filhas e um dos netos de Mandela sempre lhe moveram, chegando mesmo a questionar a legitimidade do seu casamento.

Winnie e Graça Machel. Duas mulheres marcantes na vida de  Mandela.

Sob o título “A vigília de amor de Graça”, o semanário “City Press” de Joanesburgo destacou na primeira página, na sua peça principal, o amor e dedicação de Graça Machel ao ex-presidente Nelson Mandela, que ontem morreu. À semelhança de outros artigos, publicados na imprensa sul-africana durante a prolongada doença, a peça fala não só do amor incondicional que Graça Machel tem dedicado a Madiba,  mas também da dignidade pela qual a activista moçambicana tem pautado as suas acções desde que o marido ficou doente. Em contraste, a comunicação social, amigos e um número crescente de sul-africanos anónimos têm condenado em uníssono acções de membros da família de Mandela, que esgrimiram em tribunal argumentos sobre quem tem direito a ditar o local onde Madiba seria sepultado.

“A África do Sul tem para com Graça Machel uma tremenda dívida de gratidão pela alegria que ela deu à sua vida desde o seu casamento”, disse ao “City Press” o arcebispo Desmond Tutu. Nelson Mandela e Graça Machel casaram-se há 15 anos.
Ao contrário de Graça, mas reverenciada por milhões de pessoas nas cidades negras pobres e chamada de “Mãe  da Nação”, Winnie foi uma das vozes que se insurgiu contra o poder. Defensora da prática  do pneu a arder no pescoço dos adversários, disse um dia: “Com os nossos fósforos e pneus libertaremos este país”.

Também foi acusada de rapto e assassinato do activista Stompie Moekesti, de 14 anos, e membro do ANC. Alegações de violência envolvendo membros do Clube de Futebol Mandela United, que agiam como seu corpo de guarda e exército privado no Soweto, continuam recorrentes. Winnie desmente as acusações, mas as suspeitas sobre si persistem. Winnie diz frequentemente que o ANC falhou na resolução dos problemas da maioria negra e prevê um futuro negro se nada melhor for feito para os pobres.
“A vida de primeira-dama não me serviria”, disse Winnie. “E nem sei o que faria como dona de casa”, afirmou um dia. Hoje, Winnie faz parte da direcção política do ANC.

Sérgio Soares - Jornal I

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

"Capitães de Abril" reiteram alertas para perigo de violência em Portugal.


Os "capitães de Abril" Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho reiteraram na segunda-feira à noite os alertas para o perigo de violência na actual situação político-económica em Portugal, após uma conferência de quase quatro horas sobre o 25 de Novembro, em Lisboa.
No auditório da Sociedade Portuguesa de Autores, os dois coronéis foram trocando, entre si e com a plateia, repleta de outros militares, factos, relatos e interpretações dos acontecimentos vividos desde a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, ao golpe militar liderado pelo depois antigo Presidente da República Ramalho Eanes, que instituiu o Processo Constitucional no lugar do Processo Revolucionário em Curso (PREC).
"Eu sou um dos que sou acusado disso. Não estou a incitar à violência. Estou a alertar que a violência vem aí. Venho a fazer este alerta há cerca de três anos. A figura que criei na altura foi 'vem aí uma nova revolta de escravos', se não se alterarem as políticas que estão a ser feitas. Quem está a provocar a violência é quem está a fazer as políticas", afirmou Vasco Lourenço, referindo-se a declarações anteriores, num encontro organizado por outro ex-Presidente da República, Mário Soares, há dias na Aula Magna.
O coronel, assumidamente "moderado" rejeitou ter feito quaisquer "apelos à violência", mas insistiu que, "se não alterarem as políticas, a violência vai ser inevitável", adiantando que, tal como as suas palavras, também Soares não quis incentivar qualquer acção violenta.
"É indisciplina! A burguesia, a classe dominante, a minha classe, fica extremamente em aflição quando há um prenúncio de violência. É a única linguagem. Como o Estado burguês tem o monopólio da violência e lhe foge ao controlo, da polícia, da GNR, a classe dominante fica aflita", comentou Otelo, por seu turno, sobre a recente invasão das escadarias da Assembleia da República por parte de profissionais das forças de segurança.
Para o dirigente operacional do golpe militar que depôs o Estado Novo, "vão continuar a existir coisas dessas".
"Mário Soares fez aquela charla na Aula Magna e avisou que vem aí a violência. Eu também julgo que sim. Apesar de o nosso povo ser de brando costumes - o povo é sereno, dizia o almirante Pinheiro de Azevedo -, mas, a certa altura, quando a coisa extravasa, a criminalidade está a aumentar, pode-se passar para actos de violência que vão chocar enormemente a classe burguesa que, depois, é capaz de não ter polícia e todas as forças de repressão para actuarem. E aí, é um problema", disse.
Relativamente à homenagem ao antigo chefe de Estado Ramalho Eanes, Vasco Lourenço, reconheceu que a figura é merecedora, mas discordou da data em causa, por poder "abrir feridas". "Acho que a homenagem é justa pelo passado dele, agora podia ser feita, por exemplo, no 1.º de Dezembro ou no dia de anos do general Ramalho Eanes. Eu não estou na homenagem só por isso. Ao fazerem no 25 de Novembro, estão a realçar a divisão que houve. Já muito se conseguiu, muitas feridas conseguiram ser saradas e agora estão a reabri-las", justificou.
Sobre Eanes, Otelo classificou-o como "um prussiano", já que se "agarrou à Constituição como se fosse um regulamento de disciplina militar e tudo o que fugisse dali... 'corta!'".
Saraiva de Carvalho considerou que "o 25 de Novembro representa uma paragem, uma travagem brusca no PREC, que estava a ter um curso acidentado, um bocado atormentado, indisciplinado, nos quartéis (...). Que levou ao poder a facção mais moderada, mais aceite pelo mundo ocidental".
Analisando a actualidade, Vasco Lourenço defendeu que Portugal está a assistir à "destruição de tudo o que cheira a Abril", tornando-se um "protectorado de forças estrangeiras, em que o poder está a vender o país a pataco", caminhando "para situações que de democráticas têm muito pouco".
in Publico. 

domingo, 24 de novembro de 2013

Eanes, o íntegro.


Foi um dos militares que nos devolveram a liberdade, principal operacional do 25 de Novembro, que a estabilizou, e evitou uma guerra civil. A síntese desse dia foi escrita, um ano depois, pela grande escritora Maria Velho da Costa: «Não foi um acto de alegria mas um acto de necessidade.» Eanes será homenageado na próxima segunda-feira.

Primeiro Presidente da República em democracia, em tempos conturbados, direita e esquerda votaram nele por colagem às circunstâncias mas rangendo os dentes. Sá Carneiro, Mário Soares ou Álvaro Cunhal simbolizam isso. No Palácio de Belém foram anos de austeridade financeira.

Apadrinhou e distanciou-se do PRD, mas foi ele a nomear uma mulher primeira-ministra, Lurdes Pintasilgo, décadas antes de Thatcher ou Merkel.

Quando saiu de Presidente, recusou o bastão de marechal e foi tratado com miserável vilania, por trastes, nos seus direitos. Quando rectificaram, prescindiu de 1 milhão de euros em retroactivos. Não conheço outro caso.
Fiz a cobertura da sua campanha de reeleição em 1980. Tímido e reservado provocava (me) um certo distanciamento. Terei trocado meia dúzia de palavras com ele. Não posso testemunhar, pois, como me dizem, o seu enorme sentido de humor. Nunca conseguiu lidar com o espectáculo político-mediático, com um discurso cerrado e pouco acessível. Recusou o populismo e a simpatia fácil. Se em República houvesse cognomes, seria "o Íntegro". E, Presidente, isso todos os portugueses lhe reconhecem.

 Fernanda Mestrinho


Jornalista/advogada

Jornal I

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Metade das verbas dos Jogos Sociais afeta à saúde irá financiar cuidados continuados.

Metade do valor das receitas dos jogos sociais atribuído ao Ministério da Saúde vai financiar, em 2014, a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, segundo uma portaria publicada hoje em Diário da República.

O Diário da República publica hoje duas portarias que fixam as normas necessárias à repartição dos resultados líquidos de exploração dos jogos sociais atribuídos aos ministérios da Saúde e da Administração Interna, que entram em vigor a 01 de janeiro de 2014.
A verba afeta ao Ministério da Saúde (MS) será repartida pelas áreas ligadas à prestação de cuidados continuados integrados, à prevenção e tratamento das dependências e dos comportamentos aditivos e ainda aos programas de saúde considerados prioritários.
Segundo a portaria do MS, 50% dos resultados líquidos de exploração dos jogos sociais atribuídos ao ministério serão afetos à Administração Central do Sistema de Saúde para financiar a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados.
Um terço das verbas destina-se a entidades que "prosseguem atribuições nos domínios do planeamento, prevenção e tratamento dos comportamentos aditivos e das dependências" e será distribuída por despacho do ministro da saúde, Paulo Macedo.
À Direção-Geral da Saúde serão atribuídas 17% das verbas para financiamento de programas em várias áreas, "sem prejuízo da possibilidade de gestão flexível dos recursos afetos às diferentes atividades, desde que devidamente justificada", refere a portaria.
Assim, 8% são para a área do VIH/SIDA, 3,5% para a área da saúde mental, 1% para as doenças oncológicas, 1% para a prevenção do tabagismo, 1% para a prevenção da diabetes e 0,5% para a área das doenças cerebrocardiovasculares.
Ainda segundo o DR, 0,5% das verbas serão aplicadas na área das doenças respiratórias, 0,5% no controlo das infeções associadas aos cuidados de saúde de resistência aos antimicrobianos, 1% para a área da nutrição e alimentação saudável e para outros programas a desenvolver no âmbito da prossecução dos objetivos do Plano Nacional de Saúde.
Relativamente às verbas dos jogos sociais atribuídas ao Ministério da Administração Interna, 2,77% do valor será atribuído à Autoridade Nacional de Proteção Civil para prossecução de finalidades de proteção civil, emergência e socorro, nomeadamente para apoio a associações de bombeiros voluntários.
À Secretaria-Geral do MAI será atribuída 0,30% das verbas para financiamento de iniciativas no domínio da sinistralidade rodoviária e da prevenção da criminalidade, designadamente em espaços turísticos, no interior do país e em zonas de risco.
As verbas terão ainda como destino o financiamento de iniciativas no domínio da prevenção dos riscos sociais, da vitimação e do sentimento de insegurança decorrentes da criminalidade.
Serão ainda atribuídos à Secretaria-Geral do MAI 0,69% das verbas para "posterior transferência para as forças de segurança, para o policiamento dos espetáculos desportivos".
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Pedro Santana Lopes, já tinha explicado à agência Lusa que 72,8% das receitas dos jogos sociais são atribuídos a várias entidades para fins públicos, nomeadamente para a cultura, desporto, Segurança Social, saúde, administração interna, entre outras finalidades.

Lusa 7/11/2013

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Como vai ficar registada na História a revelação de documentos ultrassecretos da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América (EUA) feita por Edward Snowden? A espionagem, nas suas mais diversas expressões, é uma velha atividade em regra bastante suja. Não é fácil detetar nas práticas individuais e coletivas do processo valores éticos, morais ou de relevância humanista. Mas, ao longo da História observam-se atos de espionagem que estiveram na origem de grandes transformações da sociedade e/ou que fixaram sentidos na mudança de poderes. Snowden não nos trouxe propriamente uma descoberta, mas despertou atenções que podem vir a ser importantes.

Primeiro, a aldeia global está bem pior do que a aldeia real. Na aldeia global, os especialistas da coisa conseguem ter um ouvido e um olho dentro de cada casa ou no telemóvel de cada cidadão, enquanto na aldeia real as fontes se situavam em coscuvilhices e na ação de "bufos" que municiavam os especialistas. Na mudança de era que estamos a viver, a Internet é uma tecnologia que foi apropriada por um poder que brinca hoje, perigosamente, com a vida dos seres humanos, sem sujeição a qualquer escrutínio popular e democrático.

Segundo, os EUA - que ainda se sentem como senhores todo-poderosos da aldeia global - usufruindo da concentração dos comandos da Internet, optaram por utilizar os avanços tecnológicos pela via mais ignóbil da "inovação" social, o assassinato da liberdade e da democracia.

Terceiro, fica provado até à exaustão que o liberalismo dominante só não controla os movimentos de capitais e especulativos porque não quer. Prefere usar as tecnologias para facilitar o roubo e a exploração sem limites e para aprisionar as pessoas.

Quarto, como sabemos, a chamada crise financeira mundial que eclodiu em 2007/2008 teve a sua origem nos EUA e não teria sido exportada, em tão forte dose e tão eficazmente, para a Europa como foi, sem os colossais meios informáticos que aquele país manipula.

Como denunciou em discurso corajoso Dilma Rousseff, presidenta do Brasil, no passado dia 24 de setembro, na abertura da 68.ª Assembleia-geral da ONU (com Barack Obama presente), os EUA andam, de forma inqualificável, a espionar governos de países catalogados de irmãos e amigos, a apropriar-se de informações empresariais de alto valor económico e estratégico, a manipular, sem escrúpulos, dados pessoais de milhões e milhões de seres humanos.

No Reino Unido, o irmão mais próximo, os serviços secretos britânicos colaboram na operação contra o seu povo. Na França, em 30 dias, espiolharam, em absoluta ilegalidade, mais de 70 milhões de dados telefónicos de franceses. Na Alemanha, a prática é a mesma e parece que nem a sr.ª Merkel escapa. Agora surgem notícias sobre a Espanha e, por certo, a situação será idêntica na generalidade dos países europeus. Nós, portugueses, dificilmente saberemos o que de facto se passa connosco, pois somos governados por subservientes e traidores políticos, que optarão sempre por credibilizar o poder externo, em desfavor dos direitos e interesses do povo e do país.

Por que é que a "Europa" é colocada nesta situação vergonhosa? Será que podemos e conseguiremos sair deste atoleiro? Os países da União Europeia, no seu conjunto e cada um, estão dependentes e submetidos. Estão absolutamente ensanduichados entre os EUA, potência que está a perder poder económico e político, e a força dos países emergentes.

A "Europa" integrou-se na dinâmica da globalização neoliberal, nunca se quis afirmar como polo alternativo - objetivo que entretanto se tornou desadequado - e hoje é arrastada pelo grande irmão no seu estrebuchar. Foi por isso que a cabeça do neoliberalismo se instalou no espaço europeu nos últimos anos. Para atacar o modelo social europeu e um significativo quadro de direitos sociais e políticos vale tudo.


Só uma perspetiva nova de respeito pelos povos, por valores de universalismo e solidariedade assentes numa estratégia séria de cooperação, desde logo entre os países europeus, mas também com países e povos de todas as latitudes, poderá salvar-nos. Iremos a tempo?

Carvalho da Silva - JN

" Os pobres de Paulo Portas"

“Paulo Portas diz que os mais pobres não se manifestaram no protesto convocado este sábado pela CGTP e que juntou milhares de pessoas” (dos jornais, 20 de Outubro de 2013)
O livro de Ryiszard Kapuscinski “Mais Um Dia de Vida: Angola 1975” é interessante a vários níveis, entre os quais retenho dois: por nos trazer um período fundamental da história fundacional do actual estado angolano e pelo retrato inesquecível de Luanda durante o êxodo dos Portugueses. Uma cidade composta por muitas cidades: a cidade de madeira que cresce nas ruas e se desloca para o porto, composta por uma multidão de caixotes que se amontoam e onde tudo se acumula; a cidade de pedra, vazia, espectral, a que resta quando a Luanda colonial se esvazia nos barcos para encerrar o ciclo marítimo dos lusíadas; a cidade efémera e vergonhosa que os brancos em debandada ergueram nas vizinhanças do aeroporto.

 A descrição de Kapuscinski é fantástica, sonâmbula. O autor, um polaco surpreendente, foi um dos poucos jornalistas estrangeiros que continuaram em Luanda e a partir daí se deslocaram para as frentes de combate. Podemos imaginá-lo, um homem grande da Europa Central, indiferente ao perigo e ao cheiro miasmático da morte, numa aposta sem sentido consigo mesmo, cada vez mais solitário na grande cidade. Há um momento em que ruma a Benguela, cruza barreiras atravessadas nas estradas e encontra a cidade dos brancos. “Zonas residenciais vazias, um luxo indescritível, um excesso estonteante de espaço para chegar, cem metros depois, ao deserto onde crescem os povoados africanos, adobe e bosta, contraplacado e chapa, sobrelotados.” Apesar do contraste chocante, os negros não ocuparam as casas abandonadas e sem guarda. O jornalista interroga-se sobre os motivos desta atitude e adianta a sua explicação: tal ideia não lhes passou pela cabeça. Os muito pobres, diz ele, “não procuraram retirar proveito pessoal, material, da nova situação de forças criada pela descolonização, porque para eles era inconcebível outra forma de vida diferente, aceitando o seu casebre e a sua tigela de mandioca como o único mundo que alguma vez hão-de conhecer ou almejar.”

No filme que relata a ocupação da Torre Bela, a herdade dos duques de Lafões que em 1975 foi ocupada por camponeses ribatejanos, há imagens que persistem. Entrando num salão, mulheres rurais abrem os aparadores de vinhático e vêem, com um misto de espanto e admiração, as toalhas de linho imaculadas, dobradas, escrupulosamente passadas a ferro. E não lhes tocam, não as põem em utilização, não as retiram das gavetas.

“Às Segundas ao Sol” é um inesquecível filme de 2002 de Fernando Léon de Aranoa, em que Javier Bardem é Santa, um operário despedido quando a crise atinge os estaleiros das Astúrias. Uma noite, Santa e dois amigos sem trabalho vagueiam pela cidade e introduzem-se, furtivamente nos jardins de uma casa abastada onde a namorada de Santa é babysitter. Com os patrões fora e as crianças a dormir, ela abre-lhes as portas da cozinha e mostra-lhes o interior. No quarto de vestir exibe o interior de um armário. Santa olha, estupefacto, os vários pares de sapatos de mulher alinhados e, depois de uma luz se lhe acender nos olhos, exclama, sem qualquer ironia: “Ah, o marido tem uma sapataria?”

Nos vários círculos da exclusão, os pobres de Paulo Portas ocupam, como os negros dos bairros de Benguela, os lugares mais profundos, secretamente irrevogáveis. Pertencem, assim pensava Kapuscinski, a um mundo que não muda, que Salazar interpretou superiormente e tentou confundir com a alma lusa. Este miserável perfeito só existe no subconsciente de Paulo Portas e nesse lugar é, curiosamente, o único elemento parado, voluntariamente desprovido, feliz com a sua miséria. Está num estádio inferior ao da resignação. A resignação pressupõe um incómodo, o desconforto de se imaginar uma outra realidade e, mesmo como possibilidade remota, a sua inclusão nela. A resignação tem em si, paradoxalmente e de forma ardilosa, a proto-ambição de mudança, porque é potencialmente provisória, precária, instável. Essa ousadia está completamente ausente da pobreza de Portas.

Os pobres de Portas são os condenados da terra antes da Internacional, as vítimas da fome perpetuamente agradecidas à amabilidade enlatada da Dra. Isabel Jonet. Os pobres de Portas são o povoléu agrilhoado e agradecido, a arraia-miúda confundida com “a convergência do sistema de pensões”, a gentalha aturdida com “o regime geral”, o escorralho adormecido com “a condição de recurso”, a ralé que “não aparece na televisão”.

Os camponeses da Torre Bela são insurrectos interruptus. Hesitaram no momento da sua libertação. As suas mãos e a comida que decerto prepararam mereciam a brancura das toalhas de linho, de que desistiram.

Santa e os camaradas asturianos foram derrotados pela deslocalização, pela flexibilização e pela crise das economias europeias, mas entraram sem culpa no quarto dos patrões.

Mas nos círculos mais exteriores – e esta verdade fere a testa dos opressores como uma espada de fogo – há seres cada vez mais livres, alguns e algumas dos quais são tão livres como Paulo Portas.


“Mais Um Dia de Vida: Angola 1975”, Ryszard Kapuscinski, Tinta da China, 2013
“Às Segundas ao Sol”, Fernando Léon de Aranoa, 2002

“Torre Bela”, Thomas Harlan, 1977

Luís Januário - Jornal I

sábado, 7 de setembro de 2013

Óbidos: A mudança!

Câmara Municipal!

Junta de Freguesia da Amoreira:


Temos equipa! Somos Semente!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Temos equipa! Somos Semente!


Boa tarde meus amigos!

Na continuação do nosso trabalho em prol de um projecto de governo de proximidade ao qual nos temos dedicado de corpo e alma e para que cada amoreirense venha ao nosso encontro para saber quais as nossas propostas para os próximos quatro anos, se vencermos as eleições autárquicas na nossa freguesia como o esperamos, a nossa candidatura anuncia que dentro de poucos dias irá abrir uma sede de candidatura nesta histórica freguesia do concelho de Óbidos, AMOREIRA! Será aqui que passaremos a ter um contacto diário com todos os que querem colaborar na mudança! Por isso caros amoreirenses esta será a vossa casa para entrarem com dúvidas e saírem com certezas! O voto que vos pedimos tem toda a sua razão de ser: Queremos uma Amoreira mais viva! Temos equipa! Somos semente! Uma Assembleia Municipal que dê voz ao povo que a elegeu! Queremos um Presidente de Câmara que seja de todos os habitantes do seu concelho e não apenas de alguns! 

Dia 29 de Setembro de 2013 vota Luís Pereira para Presidente da Junta de Freguesia. Vota José Machado para Presidente da Assembleia Municipal. Vota Bernardo Rodrigues para Presidente da Câmara de Óbidos. VOTA PS!

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Luís Pereira, candidato à Assembleia de Freguesia da Amoreira-Óbidos.


Minhas Amigas! Meus Amigos!

Amoreirenses!

Foi com muito orgulho que aceitei o desafio que este maravilhoso grupo de mulheres e homens me fez para liderar a candidatura do PS às eleições autárquicas de 2013 na Amoreira!

Sei, e, sabemos das dificuldades, tanto a nível económico como social, com que nos iremos debater! Mas, isso não nos irá impedir de lutar diariamente em prol de todos os Amoreirenses!

São desafios como estes que nos fazem crescer como mulheres e homens! São desafios como estes que nos fazem ver o quanto é gratificante lutar pelo nosso ideal e pensar nos outros antes de pensarmos em nós próprios!

São pois estes motivos que nos levam a querer ser sujeitos a sufrágio para que, sem margem para dúvidas, sejamos eleitos para conduzir os destinos dos Amoreirenses nos próximos quatro anos e para levarmos em frente um programa simples mas com mais-valias para todos os que vivem nesta maravilhosa freguesia do concelho de Óbidos!

O dia 29 de Setembro de 2013 será o primeiro dia de um novo futuro para a nossa Amoreira!

Contamos consigo!

Temos equipa! Somos semente!

Com todos por Óbidos!

domingo, 28 de julho de 2013

Respeitáveis cidadãos e veneráveis imbecis!




Por entre a bruma política e futebolística, a notícia mais importante não abriu noticiários ou fez manchetes: neste ano lectivo, nos exames nacionais do secundário, bateram-se todos os recordes negativos.
Em Matemática não damos uma para a caixa, em Português ganhámos aversão à língua. Colectivamente, a força motriz que fará o nosso futuro conseguiu distinguir-se de todas as outras desde que há exames nacionais.
Tenho falado do assunto. A culpa não está na simplista ideia de que os portugueses sofrem de uma espécie de evolucionismo ao contrário – é uma análise perigosa e contraditória com outros números que nunca foram tão bons. Uma longa conversa onde teríamos que falar do empobrecimento da comunicação, da desagregação das famílias, da ausência de disciplina e responsabilização individual dos alunos, da falta de qualidade de um número substancial de professores e dos incompetentes programas. Programas que, nomeadamente no estudo da língua portuguesa, trocam uma grande aventura por um exercício burocrático que prefere a leitura cega da gramática à fundamental viagem pelos livros que nos ajudaram a ser estes e não outros.
Enquanto um miúdo inglês, até ao 9.º ano, já conhece no essencial, Shakespeare, Poe, Dickens, Wilde, Melville, Hemingway ou Virgínia Woolf, os meus filhos e os seus, conseguiram passar pelos Lusíadas e, mesmo assim, na maioria dos casos, sem dizer nada acerca do fio invisível que faz de Camões um dos arquitectos da alma portuguesa. Da grande epopeia especula-se de raspão, mas das oitavas decassílabas, subordinadas ao ritmo fixo x ou y, mergulha-se até à náusea. Interessa-nos, como sempre nos interessou, a massa bruta, a grande obra, aquilo que nos faz parecer sábios aos olhos de papalvos. Nunca nos interessa, ou pelos menos raramente nos comove, a procura da simplicidade, da grande ideia, do que nos fica no coração depois de tudo se ter esquecido.
Importante é ficar bem na fotografia. Estar confortável nos salões de chá onde parecemos aos outros mais qualificados na argamassa, na linguagem codificada, na objectividade, nas convenções. Os pobres diabos que fogem disso são vistos como líricos, utópicos ou mesmo dementes. Más companhias e péssimas influências. Cromos poéticos, perigosos delirantes.
Exagero um pouco, infelizmente só um pouco.
O jornalista para ganhar estatuto precisa de chegar a director ou ser comentador. Numa redacção, quando algum miúdo se destaca, é logo hipótese para um qualquer cargo de editor, de chefe disto e daquilo.
Na medicina, os mais talentosos, são pressionados para liderar equipas, fazer investigação e doutoramentos em universidades americanas ou europeias, nada contra. No entanto, quando algum mostra vontade de voltar a ver doentes, de os acompanhar e curar, há sempre quem diga ser uma loucura pois atira para o lixo a oportunidade de uma vida.
Na política, as juventudes partidárias formam miúdos para serem pessoas partidas e não inteiras. Antes eram cegos de ideologia, o que me parecia mal mas, ainda assim, incomparável com esta cegueira de si próprios. Não seguem cada um por uma estrada própria, formando opiniões, dúvidas, novas perguntas e respostas que destroem e reformulam a cada momento – a sua estrada está definida e, os que se destacam, seguem-na sem atropelos: fazem-se notar com arremedos de criatividade e rebeldia controlada, sabem quem são os aliados, licenciam-se custe o que custar e estão disponíveis para o que vier.
Nas faculdades, sobretudo nos cursos científicos, como Biologia, os nossos melhores (doutorados nas melhores universidades do mundo) não têm lugar como professores pois os lugares estão ocupados por outros que, apesar de profundamente desactualizados, formam alunos que, no final da licenciatura, estão atrasados em relação aos colegas ingleses, franceses, italianos, espanhóis ou italianos. Escolho a Biologia por ser um exemplo flagrante onde se evoluiu mais nos últimos vinte anos do que em toda a sua história.
Licenciar-se, custe o que custar. Parece contraditório com o que disse antes, mas apenas aparentemente. Portugal tem a mais alta percentagem de licenciados e doutorados a ocupar cargos políticos, é um facto. Não são permitidas excepções. A licenciatura transformou-se não numa opção para melhor mergulhar no conhecimento, mas numa opção de sobrevivência. O que ouvimos, mesmo entre os pais, não é da necessidade de se conhecer mais, de se saber mais, de se atingir a sabedoria. O que ouvimos é o mais cortante, e menos poético, «o meu filho precisa do canudo».
Como escrevi numa mensagem para amigos «ser chamado de doutor é hoje mais uma forma de igualização do que de distinção. Nas empresas, escolas, banca, ONG’s, política ou televisão, a maioria das pessoas é o título e só depois o nome. Doutor isto, engenheiro aquilo e uma consequência: o que era status transformou-se num estigma que confunde respeitáveis cidadãos com veneráveis imbecis. Estou certo que, num futuro não muito distante, importantes serão os que forem reconhecidos pelo seu nome e essência».

Oxalá.


Luís Osório - Sol

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Eleições viciadas.



O sistema eleitoral autárquico permite candidaturas independentes, mas sem lhes conceder as mesmas condições que dá aos partidos políticos. No processo eleitoral que se avizinha, os independentes partem com uma enorme desvantagem.
Desde logo, porque não dispõem dos meios financeiros ilimitados a que os partidos com assento parlamentar têm acesso. Estes canalizam para o processo eleitoral autárquico alguns dos muitos milhões de subvenções que recebem do estado. As condições financeiras são desiguais. E, para agravar esta situação, os partidos têm isenções fiscais, não pagam IVA, enquanto os independentes a isso estão obrigados. Por absurdo, são os candidatos com menos recursos que pagam mais impostos.
Mas o que é ainda mais grave é que não são garantidas condições mínimas de igualdade no acesso aos cidadãos para a transmissão da mensagem eleitoral.
Os partidos do regime beneficiam de doses maciças de propaganda através das televisões e de outros órgãos de comunicação nacionais. Daqui até às eleições, os debates irão suceder-se nos vários canais, com os representantes partidários a defenderem os seus candidatos. Os portugueses irão ser bombardeados com programas em que os candidatos dos partidos do regime serão propagandeados, enquanto os independentes serão esquecidos. Quando o tema em debate for ligado ao processo eleitoral, a campanha será explícita. E mesmo quando se discuta política nacional, as eleições locais estarão presentes, ainda que implicitamente. Como se irão tirar ilações de carácter nacional a partir dos resultados locais, a política governamental e parlamentar estará sempre contaminada pela campanha eleitoral autárquica.
Com a democracia portuguesa diminuída, o processo autárquico está refém de uma partidocracia dominante. Exige-se agora uma atitude corajosa da Comissão Nacional de Eleições, a par de uma desejável autorregulação por parte dos órgãos de comunicação social. A nível local, devem ser proporcionados meios de acesso ao eleitorado equitativos, para partidos e candidaturas independentes. E, sobretudo, devem impedir-se as lavagens de cérebro que os comentadores de serviço dos partidos irão tentar impingir através das televisões.
Paulo Morais - CM

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Está a acontecer. Já se apercebeu?


Está a acontecer. Aquilo que nem nos passava pela cabeça que pudesse acontecer está mesmo a acontecer. Está a acontecer cada vez com mais regularidade as farmácias não terem os medicamentos de que precisamos. Está a acontecer que nos hospitais há racionamento) de fármacos e uma utilização cada vez mais limitada dos equipamentos. Está a acontecer que muitos produtos que comprávamos nos supermercados desapareceram e já não se encontram em nenhuma prateleira. Está a acontecer que a reparação de um carro, que necessita de um farol ou de uma peça, tem agora de esperar uma ou duas semanas porque o material tem de ser importado do exterior. Está a acontecer que as estradas e as ruas abrem buracos com regularidade, que ou ficam assim durante longos meses ou são reparados de forma atamancada, voltando rapidamente a reabrir. Está a acontecer que a iluminação pública é mais reduzida, que mais e mais lojas dos centros comerciais são entaipadas e desaparecem misteriosamente. Está a acontecer que nas livrarias há menos títulos novos e que as lojas de música se volatilizaram completamente. Está a acontecer que nos bares e restaurantes há agora vagas com fartura, que os cinemas funcionam a meio gás, que os teatros vivem no terror da falta de público. Está tudo isto a acontecer e nós, como o sapo colocado em água fria que vai aquecendo lentamente até ferver, não vemos o perigo, vamos aceitando resignados este lento mas inexorável definhar da nossa vida colectiva e do Estado social, com uma infinita tristeza e uma funda turbação.
Está a acontecer e não poderia ser de outro modo. Está a acontecer porque esta política cega de austeridade está a liquidar a classe média, conduzindo-a a uma crescente pauperização, de onde não regressará durante décadas. Está a acontecer porque, nos últimos quase 40 anos, foi esta classe média que alimentou cinemas, teatros, espectáculos, restaurantes, comércio, serviços de saúde, tudo o que verdadeiramente mudou no país e aquilo que verdadeiramente traduz os hábitos de consumo numa sociedade moderna. Foi na classe média — de professores, médicos, funcionários públicos, economistas, pequenos e médios empresários, jornalistas, artistas, músicos, dançarinos, advogados, polícias, etc. —, que a austeridade cravou o seu mais afiado e longo punhal. E com a morte da classe média morre também a economia e o próprio país.
E morre porque era esta classe média que mais consumia — e que mais estimulava — os produtos culturais nacionais, da literatura à dança, dos jornais às revistas, da música a outro tipo de espectáculos e de manifestações culturais. É por isso que a cultura está a morrer neste país, juntamente com a economia. E se a economia pode ainda recuperar lentamente, já a cultura que desaparece não volta mais. Um país sem economia é um sítio. Um país sem cultura não existe.
Durante a II Guerra Mundial, quando o esforço militar consumia todos os recursos das ilhas britânicas, foi sugerido ao primeiro-ministro Winston Churchill que cortasse nas verbas da cultura. O homem que conduziu a Inglaterra à vitória sobre a Alemanha recusou perentoriamente. “Se cortamos na cultura, estamos a fazer esta guerra para qué?” Mutatis mutandis, a mesma pergunta poderíamos fazer hoje: se retiramos todas as verbas para a cultura, estamos a fazer este ajustamento em nome de quê? Mas esta, claro, é uma questão que nunca se colocará às brilhantes cabeças que nos governam.


terça-feira, 4 de junho de 2013

Aos meus amigos fora da Turquia.



Estou a escrever para vos fazer saber o que se passou em Istambul nestes últimos 5 dias. Estou a escrever pessoalmente porque muitos dos meios de comunicação foram bloqueados pelo governo e o "passa a palavra" e a internet são as únicas formas que restam para nos explicarmos e gritar por apoio e ajuda.

Na ultima semana de Maio de 2013 um grupo de pessoas cuja maioria não pertencia a nenhuma organização ou ideologia especifica, juntaram-se no Parque Gezi em Istambul. Entre eles estavam amigos meus e estudantes de yoga. A razão era simples : Protestar e impedir a demolição do parque para a construção de mais um centro comercial no centro da cidade. Existem inúmeros centros comerciais em Istambul, e pelo menos um em cada bairro. A destruição destas árvores deveria começar quinta feira de manhã. As pessoas reuniram-se com cobertores livros e crianças. Montaram tendas e pernoitaram no meio das árvores. De manhã quando os bulldozers começaram a arrancar árvores com centenas de anos do chão, eles enfrentaram-nos e impediram a operação.

Não fizeram mais nada que colocarem-se em frente às maquinas.

Não existiu um jornal ou uma televisão que tivesse noticiado o sucedido.Tiveram um black-out informativo completo.

Mas a policia chegou com canhões de agua e gás pimenta. E expulsaram as pessoas para fora do parque.

Ao serão do dia 31 de Maio o numero de manifestantes multiplicou-se. O numero de policias à volta do parque também. Entretanto o governo local de Istambul fechou todos os caminhos à Praça Taskim onde o parque está situado. O metro foi fechado, a circulação de comboios foi cancelada, e as estradas bloqueadas.

Contudo mais e mais pessoas conseguiam chegar ao centro da cidade a pé.

Vieram de todos os locais de Istambul. Diferentes passados, diferentes ideologias, diferentes religiões. Juntaram-se para impedir a destruição de algo maior que o parque:

O direito a sermos cidadãos honrados neste país.

Juntaram-se e permaneceram sentados no parque. A policia de choque, durante um ataque a meio da noite, pegou fogo às tendas, e atacou o manifestantes com gás lacrimogéneo e jactos de agua. Dois jovens atropelados por tanques morreram. Outra rapariga, uma amiga minha, foi atingida na cabeça com uma lata de gás que foi disparada. A policia disparava directamente contra a multidão. Após três horas de operação continua nos cuidados intensivos numa situação muito crítica. Enquanto escrevo isto, ainda não sei se sobreviverá. Este blog è dedicado a ela.

Estas pessoas são amigos meus, estudantes meus, familiares meus. Não têm qualquer agenda secreta como o Estado diz. A agenda do Estado, è a que se vê. È muito clara. O país inteiro está a ser vendido a corporações pelo governo, para a construção de centros comerciais, condomínios de luxo, auto-estradas, barragens e centrais nucleares. O nosso governo está a procurar (e a criar quando necessário), qualquer desculpa para atacar a Síria contra a vontade do povo turco.

Como se isso não bastasse, ultimamente o controlo do governo sobre a vida pessoal dos cidadão está a ser intolerável. O Estado, segundo a sua agenda conservadora aprovou legislação em relação ao aborto, nascimento por cesariana, venda e consumo de álcool, e inclusive sobre a cor de bâton  usado por hospedeiras de bordo.

As pessoas que marcham no centro de Istambul exigem uma vida livre, justiça, protecção e respeito do Estado. Exigem serem ouvidos nos processos de decisão acerca da cidade onde vivem.

O que recebemos em troca foi força bruta e gás disparado contra nós. Três pessoas perderam a vista.

Mas continuam a marchar. Centenas e milhares de toda a espécie juntaram-se a eles. Dois mil atravessando a ponte Bosporus a pé para se juntarem às pessoas em Taskim. Foram recebidos com mais canhões de agua, mais gás pimenta, mais hostilidade. Quatro morreram, milhares foram feridos.

Nenhum telejornal ou canal de televisão noticiou estes acontecimentos. Em vez disso, transmitiam noticias sobre a Miss Turquia ou o "gato mais perigoso do mundo".

A policia continuou a perseguir e a gasear as pessoas a um ponto que gatos e cães vadios chegaram a morrer envenenados.

Escolas, Hospitais e mesmo hoteis de 5 estrelas abriram as portas para acolher feridos. Alguns policias recusaram participar nas agressões e demitiram-se. À volta da praça a policia colocou antenas para bloquear os sinais 3G. Residentes e donos de lojas na zona providenciaram internet e wireless gratuitamente para as ruas. Restaurantes ofereciam e distribuíam comida e água.

Em Izmir e Ancara reuniam-se pessoas nas ruas em apoio às de Istambul. A manifestações começavam a espalhar-se a outras cidades, onde cidadãos iam sendo tratados com brutalidade e hostilidade pela policia. Centenas de milhares juntaram-se.

Os media, continuavam a transmitir a Miss Turquia e o "gato mais perigoso do mundo".

***

Estou a escrever isto para que saibam o que se passa em Istambul. A comunicação social não diz nada disto. Pelo menos no meu país. Por favor postem todos os artigos que encontrarem e virem na internet e espalhem pelo mundo.

Eu não pertenço a qualquer partido politico. Eu não acredito na politica. Não defendo qualquer ideologia nem estou ao lado de qualquer regime. Como muitos na Turquia, estou cansada e frustrada da polarização entre o secular Kemalismo e o Islamismo. Não pertenço a qualquer deles. Eu acredito no afastamento desta polarização em caminho de encontrarmos novas formas de relacionamento. Eu sei que muitas das pessoas que se manifestam nas ruas de Istambul partilham esta ideia e acho que não somos os únicos. Apenas queremos viver as nossas vidas com dignidade.

Enquanto postava artigos que explicavam o que se estava a passar em Istambul no meu Facebook, alguém me perguntou:

"Que esperas conseguir por queixar-te acerca do teu país a estrangeiros ?"

Este blog è a minha resposta.

Por "queixar-me" a estrangeiros acerca do meu país espero o seguinte:

Liberdade de expressão e de opinião,

Respeito pelos direitos humanos,

Controlo sobre as decisões que dizem respeito ao meu corpo,

O direito de me aglomerar a outro em qualquer parte de cidade sem me chamarem terrorista.

Mas principalmente ao espalhar tudo isto, a vocês, meus amigos, que vivem noutras partes do mundo, espero conseguir a vossa consciência, apoio e ajuda.

Por favor espalhem este blog.

Obrigada "

O original pode ser encontrado aqui:
http://defnesumanblogs.com/

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Prémios Neurociências criados pela Santa Casa apresentados no Mosteiro dos Jerónimos.




Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Pedro Santana Lopes, o neurocirurgião João Lobo Antunes e o cientista Alexandre Quintanilha apresentam, no dia 29 de maio (quarta feira), no Mosteiro dos Jerónimos, a primeira edição dos Prémios Santa Casa Neurociências. São os maiores prémios atribuídos na área da investigação médica e científica em Portugal, no valor de 400 mil euros distribuídos em dois galardões: o Prémio Melo e Castro para a recuperação e tratamento de lesões vertebro-medulares; e o Prémio Mantero Belard, para o tratamento das doenças associadas ao envelhecimento, como a Doença de Parkinson e de Alzheimer.

neurologista António Damásio está também associado à promoção destes Prémios, através dos quais a Santa Casa pretende investir e contribuir para a investigação científica, num contexto de grave crise.

A iniciativa conta ainda com o apoio das universidades de Lisboa, Porto e Coimbra, bem como de várias sociedades médicas nacionais.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Carta a Jorge Jesus.




Caro Jorge Jesus, muitos parabéns pelo grande jogo que ontem o Benfica fez.
Muitos parabéns pela forma desassombrada, corajosa, intensa e vibrante como ontem o Benfica jogou. Assim, sim, assim o Benfica é grande, mesmo quando perde.
Ontem, talvez pela primeira vez em toda a minha vida, senti que Portugal inteiro se orgulhou do Benfica. Mesmo os nossos adversários, portistas e sportinguistas, admiraram o nosso fantástico jogo, e o nosso maravilhoso público em Amesterdão, e mesmo eles sentiram a crueldade que foi perder assim.
A derrota custa, custa muito, mas caro Jorge Jesus, não deixes que esta derrota ensombre o quanto fizeste este ano e a grande temporada que o Benfica fez. 
Jamais me vou esquecer de muitos momentos bons deste ano. Das vitórias em Leverkusen e Bordéus, da forma magnífica como jogámos em Nou Camp, Newcastle ou nesta final; das excelentes vitórias nacionais em campos tão difíceis como Alvalade, Braga, Madeira e Paços de Ferreira.
E, sobretudo, jamais me vou esquecer daquele que foi o melhor jogo da época que o Benfica fez, na Luz, contra o Fenerbahçe, na meia-final.
Além disso, também não me vou esquecer do que diziam da equipa no início do ano, quando tínhamos acabado de vender Witsel e Javi Garcia e não havia meio-campo, pois Aimar e Martins estavam fora de combate. Ou quando diziam que não tínhamos defesa, pois Luisão estava castigado para meses e supostamente não havia lateral esquerdo.
Ainda te lembras do que disseram de ti? Pois, meu caro Jesus, a ti se deve a grande construção desta equipa. A invenção de um meio-campo excelente, com Matic e Enzo Pérez; o nascimento de um jovem lateral chamado Melgarejo; a afirmação de um grande avançado chamado Lima; e ainda uma aposta em jovens portugueses, os dois Andrés.
Quem fez tudo isto em apenas um ano, e conseguiu tanta coisa boa e bonita para alegrar os nossos corações, não pode pensar em desistir só porque perdeu dois jogos nos descontos. 
Os grandes homens não são os que estão sempre no topo, lá no alto, mas sim aqueles que sabem que vão cair muitas vezes e que se vão tornar a levantar do chão muitas vezes mais, e recomeçar tudo outra vez. 
A história não acaba aqui, a vida não acaba hoje nem amanhã, e no Domingo ainda temos de lutar por um milagre. 
Sim, um dia vai acontecer um milagre ao Benfica. Ninguém sabe quando, mas um dia a famosa maldição de Bela Gutman também vai acabar. Ontem não foi esse dia, mas ele vai chegar.
Sabemos todos, desde crianças, que todas as maldições acabam com a chegada de um Príncipe Encantado. Quem sabe se um dia não serás tu?

Domingos Amaral

domingo, 5 de maio de 2013

Selecção dos Mediadores dos Jogos Sociais do Estado.



  • Lisboa, 02 de Maio 2013: Foi hoje publicado em dois jornais de circulação nacional o Comunicado do Departamento de Jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (DJSCML), que torna públicos os critérios, regras e procedimentos, para selecção dos Mediadores dos Jogos Santa Casa.

    Mantendo o rigor e transparência que sempre pautaram esta actividade, pretendeu-se simplificar procedimentos, nos termos do nº 5 do artigo 2º do Regulamento dos Mediadores dos Jogos Sociais do estado, aprovado pela Portaria nº 313/2004 de 23 de março, e alterado pelas Portarias nºs 216/2012 de 18 de Junho e 112/2013, de 21 de Março.
    Este Comunicado, que revoga o anterior Comunicado para selecção de mediadores dos Jogos Sociais do Estado de 24 de Janeiro de 2009, vem determinar que os mediadores dos jogos sociais do Estado passam a ser seleccionados nos termos exatos do referido Comunicado, não sendo consideradas quaisquer candidaturas que não cumpram os critérios, regras e procedimentos nele estabelecidos.

    Adequando os novos critérios e procedimentos à realidade actual  o início de um procedimento com vista à selecção de mediadores passa a ser publicitado no endereço electrónico www.jogossantacasa.pt, com indicação da respectiva zona de interesse comercial e do prazo para os interessados apresentarem a sua candidatura.
     As candidaturas que cumpram os requisitos estabelecidos serão avaliadas pelo DJSCML de acordo com elementos referentes ao respectivo estabelecimento comercial, tais como localização, período de funcionamento, acessibilidades, segurança, etc.

    Consulte aqui os novos Critérios, Regras e Procedimentos de Seleção de Mediadores., hoje tornados públicos, que entram em vigor no dia 31 de Maio de 2013.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Santa Casa alerta apostadores para fraude nas "Raspadinhas".



Jogos parecidos e ilegais detetados pela Santa Casa, que já participou o caso às autoridades.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa alerta os apostadores para uma fraude com bilhetes de jogo semelhantes aos da "Raspadinha". A informação surge num comunicado, no qual a Santa Casa refere que tem vindo a "detetar novas formas de jogo ilegal", das quais destaca imitações da conhecida "Raspadinha", oficialmente designada como "Lotaria Instantânea", ilegalidades que estão a ser investigadas pelas "autoridades policiais".

De acordo com o comunicado da Santa Casa, têm surgido "bilhetes de jogo cujas características são semelhantes aos da Lotaria Instantânea, conhecida popularmente por Raspadinha e cuja exploração - à semelhança dos restantes Jogos Sociais do Estado - está confiada em exclusivo à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa".

Mas num anúncio, esta segunda-feira, no JN, a Santa Casa é mais clara e fala mesmo em "alerta". Neste sentido, o Departamento de Jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa "alerta todos os cidadãos para os riscos em que incorrem ao participarem neste tipo de jogo ilegal, tais como o de burla e fraude, e também para o facto de tal participação constituir uma contraordenação".
E a Santa Casa esclarece que essas irregularidades foram detetadas pelo Departamento de Jogos, "em colaboração com as autoridades policiais competentes".

O alerta surgiu na passada sexta-feira, dia em que foi publicada um novo diploma legal relativamente à Raspadinha. Trata-se da Portaria nº 148/2013, que, segundo a Santa Casa, vem "reforçar a segurança dos apostadores e dos mediadores no momento da aquisição de bilhetes da Lotaria Instantânea".

A instituição salienta que os bilhetes só podem ser vendidos "através dos mediadores dos Jogos Sociais do Estado, que estão devidamente identificados".

Só valem em bom estado

É nestes termos e com este enquadramento jurídico que os vencedores das raspadinhas "só terão direito ao prémio se não forem rasgados, mutilados, deteriorados, alterados ou estiverem legíveis e se mantiverem intacta a zona 'Não raspar'". Da mesma forma, salienta a Santa Casa da Misericórdia, o código de barras deve ser mantido intacto. A nova legislação já está em vigor.

CARLOS VARELA - JN