segunda-feira, 27 de abril de 2009

O primeiro 1º de Maio em Portugal e no mundo


No século XIX, a pujança da “Revolução Industrial” conduziu à sujeição dos trabalhadores a condições desumanas de laboração. A necessidade de se produzir o máxima ao mais baixo custo não respeitava idades nem sexos. As organizações sindicais eram incipientes e perseguidas pelas autoridades policiais.

Em 1864 é criada a Primeira Associação Internacional dos Trabalhadores, em Londres. A iniciativa surge num contexto de união entre líderes sindicais e activistas socialistas com vista a dar voz às lutas dos trabalhadores e às nações oprimidas. A esta associação se chamou mais tarde a Primeira Internacional Socialista que duraria sete anos. As divisões ideológicas entre as várias facções (sindicalistas, anarquistas, socialistas, republicanos e democratas radicais, entre outras) puseram fim à agremiação, mas deixaram mais explícitas as reivindicações e propostas pelas quais os trabalhadores se deveriam debater. A redução da jornada de trabalho para as 10 horas diárias era uma delas.

Os objectivos saídos desta Internacional tiveram eco no IV Congresso da American Federation of Labor, em Novembro de 1884. As negociações, sucessivamente falhadas com as entidades patronais, fizeram das cidades operárias um barril de pólvora pronto a explodir. Até que, em 1886, no dia 1 de Maio, teve início uma greve geral com a adesão de mais de 1 milhão de trabalhadores em todo o território norte-americano. A reacção a esta paralisação foi violenta.

Na cidade de Chicago a repressão policial foi especialmente dura. Ao quarto dia de manifestações (dia 4 de Maio) explodiu uma bomba entre a multidão matando dezenas de trabalhadores e alguns polícias. Deste incidente resultou a prisão de oito líderes do movimento. Quatro foram condenados à morte por enforcamento e os restantes a prisão perpétua. Em 1890, o Congresso americano vota a lei que estabelece a jornada de oito horas de trabalho e três anos mais tarde, depois da reabertura do processo que levou à condenação dos oito operários, conclui-se que a bomba que explodiu em Chicago tinha sido colocada pela própria polícia.

O luto fortaleceu a luta

Três anos depois da condenação dos que ficaram conhecidos como os “Mártires de Chicago” as repercussões sentiram-se na Europa. Assim, em 1889, a Segunda Internacional Socialista decidiu, em Paris, proclamar o 1º de Maio como o Dia do Trabalhador em memória dos que morreram em Chicago.

Curiosos são os títulos de alguns jornais americanos a propósito das manifestações dos trabalhadores. O “Chicago Tribune” dizia na altura: “A prisão e os trabalhos forçados são a única solução adequada para a questão social”. O New York Tribune seguia a mesma linha: “Estes brutos só compreendem a força, uma força que possam recordar por várias gerações”. De sublinhar que nos EUA o chamado Labor Day festeja-se a 3 de Setembro e não a 1 de Maio.

Em Portugal

A decisão da Comuna de Paris, de decretar o 1º de Maio como o Dia Internacional do Trabalhador teve repercussões no nosso país. Diz-nos José Mattoso (in História de Portugal, vol. 5), que houve um reforço da luta do movimento operário português em finais do séc. XIX sendo "em torno da associação e da greve que gravita o próprio movimento operário". Entre 1852 e 1910 realizaram-se 559 greves no nosso país. A subida dos salários, a diminuição da jornada de trabalho e a melhoria das condições de laboração eram as principais exigências dos operários.

Mas, segundo o mesmo autor, o movimento operário alcançava grande força quando "aquelas (associações) a que hoje chamaríamos propriamente «sindicatos» se juntavam com as recreativas, as de socorros mútuos e os centros políticos". Tal ficou demonstrado no 1º de Maio de 1900 que juntou em Lisboa cerca de 40 mil pessoas, numa altura em que "as classes médias ainda viam as organizações de trabalhadores com alguma simpatia".

Durante a I República não se deixou de festejar o Dia do Trabalhador, mas sublinhe-se que um dos primeiros diplomas aprovados, com a instituição do novo regime, dizia respeito ao estabelecimento dos feriados nacionais e destes não constava o dia do trabalhador. Em 1933 é decretada a "unicidade sindical" e o "controle governamental dos sindicatos" esmorecendo um movimento operário que só ganharia novo ânimo na década de 40. Durante o Estado Novo as manifestações no Dia do Trabalho (e não do Trabalhador) eram organizadas e controladas pelo Estado.

O primeiro 1º de Maio celebrado em Portugal depois do 25 de Abril foi a maior manifestação alguma vez organizada no país. Só na cidade de Lisboa juntaram-se mais de meio milhão de pessoas. Para muitos, foi a forma dos portugueses demonstrarem a sua adesão ao 25 de Abril, que uma semana antes restituía ao país a democracia.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A Revolução em cada um de nós!


Ninguém é sozinho!

Ninguém nasce tão pouco sozinho, se durante 9 meses, mais ou menos dependemos na íntegra de outra pessoa, depois a coisa não é muito diferente.

Mais, cada um de nós é uma espécie de multidão, um aglomerado de células, os traços fisionómicos ancestrais misturados de uma forma impar, alguns defeitos também, muitas capacidades.

Depois, muito depois aparentemente autónomos, também não o somos, não só porque não vivemos em ilhas à mercê dos elementos e da nossa vontade, do nosso espírito empreendedor, mas vivemos em grupo, alcateias, bandos, cardumes e enxames.

O ser humano será um pouco como a grande barreira de corais da Austrália, o que se supunha que fosse um conjunto de organismos é apenas um único que e estende por 345,4 mil km2, e é só um, pode sobreviver a uma pequena amputação, a algumas tempestades, à morte de algumas das suas partes, mas é ainda só um.

A espécie humana será assim também, precisamos sempre de alguém, precisamos fisicamente de outros, mesmo que saiba fabricar o meu pão, irei precisar de quem fabrique a farinha, plante o cereal…

Como tal nesta necessidade de outros, na necessidade de sermos amados, de diversas formas como filhos, como companheiros, como pais e como amigos.

Por vezes afirmamos essas necessidades de uma forma básica, animal, tentar subjugar, tentar aniquilar, neutralizar, de todas as formas.

No fundo os nossos desejos pessoais serão sempre os mesmos, ser felizes, ter abrigo, se possível com conforto, ter alimento, ser amados e amar, caso tenhamos filhos que eles sejam felizes.

Simples!

Por isso a revolução terá de começar em cada um de nós de forma interna e inequívoca.

Fazendo parte deste organismo gigantesco da humanidade, teremos de saber que cada vitória ou realização pessoal, não poderá nunca ser conquistada em cima da derrota de outro ser como nós, que não poderemos apreciar na totalidade o nosso abrigo e conforto, quando for só e exclusivamente nosso sabendo que parte do mesmo grupo que nós não o tem de todo, o nosso pão, o nosso espaço…

Teremos assim que, mantendo as características que tornam cada um de nós único, esforçarmo-nos para que cada um de nós seja igual.

Todos os dias, em todas as coisas!

“Do Blog Cheira-me a Revolução!”

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Padre rali


…Paulo Gerardo não faz o trabalho de cinco. Mas quase. Juntamente com o recém padre João, tem sete paróquias, em nove freguesias na zona de Óbidos. E se, já diz o ditado, "paróquia viva, pároco morto", de cansaço, entenda-se, aqui a vida corre depressa, é estafante.

O domingo começa cedo, pois o rali paroquial, como dizem na brincadeira, tem de levar Paulo a celebrar quatro missas. Às 8.35, o carro já está a trabalhar e de casa, na Amoreira, sai disparado para a Usseira, paróquia onde os crentes aguardam no largo. Pormenores de última hora, vestir-se, distribuir o jornal da diocese, trocar impressões com catequistas e responsáveis da equipa de animação local, e está na hora de subir ao altar. Uma hora depois, deixados os avisos, e trocadas algumas palavras rápidas com alguém que se atravessa no caminho, está na altura de entrar no carro, e seguir viagem. Não sem antes tomar um café rápido, em pé, e enquanto larga uma moeda para comprar uma rifa a uma criança.

Há dois anos que Paulo anda nesta lufa-lufa, numa tentativa de dinamizar um grupo de paróquias meio adormecidas. "Ainda não estamos em velocidade de cruzeiro. Mas queremos criar uma dinâmica inter paroquial, sem que cada paróquia perca a identidade", explica, sublinhando que o truque é fomentar a relação entre as pessoas. "Ser cristão é viver em relação", foi o slogan do ano pois, diz, "a Igreja existe para levar o evangelho e para que o relacionamento entre as pessoas seja mais fraterno e humano". Por isso, em cada paróquia criou-se o grupo de mensageiros que levam os convites da igreja de casa em casa.

A resposta à falta de padres, afirma, "passa também por contar mais com os leigos. É difícil comprometer as pessoas, é verdade, mas às vezes também não é assim tão difícil como se apregoa", diz, no caminho sinuoso até ao Vau, onde já está tudo a postos para a missa. "O que é a Quaresma?", interpela os mais pequenos na homilia, levando na volta a resposta: "o tempo em que comemos menos doces e guardamos o dinheiro para dar a quem mais precisa", diz uma criança na fila da frente.
Cativar os mais novos é outro objectivo desta equipa de dois padres, hoje desfalcada porque o mais novo está num retiro. O que passa por pô-los a participar na missa, preparando as leituras e expondo a mensagem em cartazes e frases simples. "Nem sempre é fácil", confessa Paulo Gerardo, já a entrar no carro para se dirigir à paróquia principal: Óbidos.

Hoje é um daqueles dias em que entrar na vila amuralhada é quase missão impossível, pois o Festival do Chocolate faz rumar a Óbidos milhares de pessoas. A missa é ao meio dia, meia hora depois de acabar a do Vau, a dez quilómetros de distância, mas o drama é mesmo estacionar e correr até à Igreja de S. Pedro, abrindo caminho entre a multidão. Aqui a audiência é mais distinta, a igreja maior e com direito a visitas turísticas, mas a mensagem a pregar é a mesma: tempo de Quaresma, tempo de oração, penitência e jejum. No fim, mesmo com a barriga já a dar horas, é preciso conversar com os crentes, acertar assuntos com o diácono, e até dar uma palavra de conforto a um paroquiano que parece não estar bem.

Ao fim da terceira missa, a paragem é no restaurante, onde ao padre Paulo se junta para o almoço o colega que veio de Lisboa dar uma mãozinha na ausência do padre João. Também aqui o descanso é relativo, pois é preciso cumprimentar, dar uma palavra de atenção, atender o telemóvel. "Costumo dizer às pessoas que tenho tempo para tudo, pode é não ser quando elas querem", explica o padre que, além das missas, tem de arranjar horas para confessar, visitar doentes, ouvir pessoas, orientar grupos, preparar encontros e até dirigir obras na igreja. Na vida de pároco, não há escritório, rotinas, nem expediente mas, diz, devia sobrar mais tempo para ler e rezar.
Como hoje não é dos domingos em que a tarde fica livre, é preciso celebrar mais uma missa no Sobral da Lagoa às 15.30. As fatiotas mais aprumadas e a agitação no átrio revelam que qualquer coisa está para acontecer. É a bênção dos bebés, cerimónia que percorre todas as paróquias, em alusão a um episódio da vida de Jesus, e que enche a igreja. Pelo menos, hoje, que é dia de festa.

DN

sábado, 11 de abril de 2009

BORDALO PINHEIRO. OS TRABALHADORES AGRADECEM. OBRIGADO PORTUGAL.



Do alto da sua humildade, os trabalhadores das Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro manifestam que a experiência ensina-nos que é preciso perdoar muito e não esquecer nada. Ao longo de cerca de 105 dias, vivemos, a pior experiência das nossas vidas, em termos profissionais.

Tudo começou a 17 de Dezembro de 2008, ou melhor, tudo se agravou, quando nos foi proposto, que suspendêssemos os contratos de trabalho. Ora, depois de um ano, em que já tínhamos recorrido ao Fundo de Garantia Salarial, para que pudéssemos receber dois meses de vencimento, quando existiam cerca de 6 mil horas de trabalho suplementar, no chamado banco de horas, sem nunca termos parado um único minuto, porque entendemos e acreditámos nas pessoas, esta atitude por parte da administração foi considerada pelos trabalhadores, abusiva.

Nunca os trabalhadores se deram como vencidos, o seu objectivo era e será sempre, a viabilidade da empresa, a continuidade laboral de uma empresa / instituição, de índole artística e cultural de Portugal, sendo naturalmente o seu ganha-pão.

Foi com elegância e determinação que os trabalhadores, apoiados nos apoios incondicionais de muitos dos seus ex-colegas que, desenvolveram esforços e sacrifícios, nunca deixaram que alguém mais “iluminado” turvasse as suas intenções. Levaram o nome da empresa e a sua causa até onde foi possível, sempre com respeito pelo próximo, parte integrante dos princípios que norteiam estes trabalhadores.

Entre reuniões plenárias dos trabalhadores e na Câmara Municipal, a Comissão de representantes, na qualidade de coordenadora de acções desenvolvidas, deu a cara e a voz, por todos, foi por diversas vezes confortada, em muitos gabinetes, inclusive governamentais, sinais evidentes de que, não só a postura educada como todos os trabalhadores se apresentavam, como a nossa visão dos factos, estavam correctos.

Foi um período repleto de trabalho, extra, em equipa, com um valiosíssimo contributo e potencial intelectual de algumas personalidades, com descrição e profissionalismo, alcançou-se um caminho que, se deseja seguro, embora não muito sólido nos tempos mais próximos, atentos e conscientes dessas dificuldades, os trabalhadores nunca deixarão de colocar em cada minuto a sua paixão pela empresa.

Os trabalhadores da Bordalo Pinheiro, jamais esquecerão, as manifestações de solidariedade que receberam, como por exemplo; Governo Civil de Leiria, Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Deputados na Assembleia da República, Concelhias de Partidos Políticos, CGTP, Federação Portuguesa de Cerâmica, União de Sindicatos de Leiria, Sindicato de Cerâmica da Região Centro, Artistas, população das Caldas a Rainha, comunicação social e muitos outros anónimos e entidades de Portugal, a todos, o nosso Muito Obrigado.

Gostaríamos de destacar a importância que o Senhor Ministro da Economia e Inovação, Dr. Manuel Pinho teve. Receber-nos no seu gabinete, prometermo-nos que o processo seria resolvido num prazo de dois meses, manifestar-nos a sua solidariedade e compreensão, para além de ter a amabilidade de nos contactar directamente e de vir á empresa apresentar a solução, estamos cientes que senão fosse a sua contribuição não teríamos este desfecho. Obrigado Senhor Ministro.

Com toda a certeza, dizemos, o dia 31 de Março, ficará eternamente na memória de ex e actuais trabalhadores, com emoção, podemos ver Sua Excelência o Primeiro-Ministro, na empresa, momento simbólico, mas acima de tudo um reconhecimento ao empenhamento dos trabalhadores, conforme fez questão de mencionar. Mais do que agradecer a sua vinda, o nosso sentido agradecimento pelas suas palavras.

A todos que contribuíram e nos encorajaram, muito sinceramente, não temos palavras para expressar a nossa gratidão, contribuímos todos para a grandeza histórica da empresa, cidade e do país.

Obrigado Portugal.



Os trabalhadores das Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro

domingo, 5 de abril de 2009

Deixem o povo em paz, porra!


“Esta gente que agora se farta de dizer mal de Portugal e dos portugueses é a mesma que está no poder há décadas. Sejam políticos, jornalistas, comentadores, dirigentes disto e daquilo, empresários, o que for. São os que se dizem detentores da verdade, mas não a dizem. Talvez se queiram servir dela para outros proveitos. Sabem das notícias, mas não as dão. Têm medo de quê? Talvez de perder o conforto dos lugares que ocupam. Achincalham-se pelas costas, apertam-se peito a peito pela frente. Falam dos portugueses, falam muito dos portugueses e de Portugal, como se alguém lhes tivesse dado o dom de olhar lá do alto duma torre imensa para cá por baixo categorizarem. São bocas abertas de lugares comuns, ideias roubadas aos outros, pensam quase sempre pela cabeça dos outros, citando, referindo, comparando. Eles sabem tudo, eles têm soluções para tudo. Generalizam com o maior dos à-vontades, mas sempre com o cuidado de se colocarem fora das generalizações. Eles dizem mal de Portugal e dos portugueses? Eu prefiro dizer mal deles. Foram eles que organizaram a festa. A eles se deve a qualidade da banda. Querem agora ter um pezinho dentro e outro fora? À merda com eles! Foram eles que calaram, foram eles que pactuaram, foram eles que carregaram os sacos azuis da nossa miséria. Mas afinal quem faz as leis? O povo? E os políticos? O povo? Quem, ao longo destes anos, tem dado voz aos falsários e calado os competentes? O povo? Sempre e sempre o povo, malfadado povo. Deixem o povo em paz, porra! Mas qual povo qual carapau? O povo levanta-se às 6 da manhã para ir esfregar as latrinas dos centros comerciais. O povo não arranja as unhas. O povo mora atrás dos balcões com a corda ao pescoço. O povo é apenas a engrenagem do sistema que vocês, vocês que agora criticam, vocês que agora dizem mal, vocês que agora se angustiam, o povo é apenas a engrenagem do sistema que vocês operam. Deixem o povo em paz, caralho! O povo só quer ter o que comer, porque o povo sabe que a morte está ali no final da esquina à espreita. O povo quer ter filhos de barriga cheia. Que querem vocês? Que querem vocês do povo? Que o povo deixe de ser povo? O povo é cão, há-de ser sempre cão. O que varia é o dono.”

Autor desconhecido