quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Raspadinha tem nova modalidade.


A Lotaria Instantânea - Raspadinha tem a partir do próximo mês uma nova modalidade de jogo. Chama-se Mini Pé de-Meia e é, como o nome indica, uma opção mais barata e com prémios mais modestos do jogo-sensação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa do último ano. 

Em 2012, os jogos sociais obtiveram receitas na raspadinha de 376 milhões de euros. Um montante que representou um acréscimo de 82% face à facturação de 2011. Em prémios, a raspadinha entregou um total de 233 milhões de euros.

O novo jogo tem o custo de um euro e oferece de primeiro prémio 500 euros/mês ao longo de cinco anos, ou seja 30 mil euros no total. O segundo prémio representa 250 euros/mês por dois anos e o terceiro permite ganhar 150 euros/mês durante um ano. A probabilidade de ganho é de uma em cada três raspadinhas.

O vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Paes Afonso, acredita que "a nova raspadinha irá atrair mais apostadores para os jogos sociais, devido a ter um preço mais modesto face às duas modalidades à venda". Recorde-se que a Super Pé-de--Meia custa cinco euros e a Pé-de- -Meia custa três euros.

Paes Afonso considera ainda que a entrada em funcionamento deste novo jogo "é mais uma opção da Santa Casa no combate ao jogo ilegal das rifas, que se caracteriza por entregar prémios de pequenos montantes".

Na raspadinha, em 2012, as maiores fortunas entregues foram quatro primeiros prémios da Super Pé-de-Meia. Ganhar o máximo nesta modalidade, que surgiu em Agosto do último ano, representa um prémio de dois mil euros mensais por doze anos, o que totaliza 288 mil euros. Na Pé-de-Meia foram, por sua vez, entregues doze primeiros prémios. Estes vencedores recebem durante dez anos 1500 euros por mês, ou seja, um total de 180 mil euros.

CM.

domingo, 13 de janeiro de 2013

O “Estado a que isto chegou”: Que consequências?



Vivemos tempos conturbados, plenos de incerteza, de insegurança, de angústia. Tempos em que o medo nos surge a cada esquina do nosso quotidiano, cada vez menos nosso - objectos que somos de um deus menor (o dinheiro) que nos “coisifica” -, e em que nos sentimos meras peças de um todo que desconhecemos, que não compreendemos, e que nos sufoca.
Olhamos à nossa volta e as injustiças de que damos conta – muitas delas vivendo-as como protagonistas/vítimas principais – impedem-nos de permanecermos calados, incitam-nos a que gritemos a nossa revolta.
Mas hoje, esse grito de revolta aparece-nos ténue, frágil, impotente, perante a constância e a extensão dessas injustiças, sempre reiteradas, renovadas, ampliadas.
A nossa indignação já esgotou as palavras que conhecíamos para a nomearmos, para contermos “ a raiva que não se deixa aprisionar em palavras” (Amartya Sen).
Buscamos, com urgência, um último átomo de ponderação. E são inúmeras as vozes que nos abraçam, expressando a sua solidariedade, por assumirem como suas as nossas razões. São vozes que nos chegam dos mais diversos lugares, através dos mais diversos mensageiros, apoiando-nos na nossa profunda convicção de que há outros caminhos a percorrer se queremos – como exigimos! – alcançar o Futuro.
Mas essas vozes, mesmo mais “moderadas e ponderadas” que as palavras verticais com que afirmamos a nossa indignação, também não chegam ao Poder. Ou são por ele ignobilmente desprezadas.
Sem palavras para nos defendermos, sentimos nos impelidos a ultrapassar a fronteira da indignação, e a entrarmos, violentados e temerosos, mas DE PÉ, no território dos humilhados, dos ofendidos, dos descartáveis. Dos que são apenas números em estatísticas de vão-de escada, manhosamente manipuladas pelo Poder e por muita da comunicação social. No território onde mora o desespero.
Sem palavras para dizermos a nossa indignação, é-nos cada vez mais imprescindível, e urgente, que a raiva que sentimos se solte em actos. Poderão ser actos aleatórios, imprevisíveis, sem controlo, desesperados. Poderão ser potencialmente violentos, eventualmente (também eles) injustos. Mas que não restem dúvidas – serão uma consequência, e não, nunca, uma causa da violência. Serão respostas (legítima defesa) à violência que hoje sofremos, imposta pelo exercício ilegítimo do Poder.
Pois não é violência pura a destruição do Presente de milhões de portugueses?
Não é violência pura o roubo do Futuro perpetrado contra os mais jovens? Não é violência pura os despudorados insultos lançados contra os mais velhos, amarrotando lhes um Passado inteiro e vertical, impondo-lhes um Presente vazio e de exclusão, negando lhes um Futuro merecidamente digno?
Não é a mais abjecta violência haver – hoje, século XXI, num país da União Europeia! – milhares de crianças com fome? Não é isto um Crime contra a Humanidade?
Não é uma violência vil e despudorada colocar no “limbo dos descartáveis” milhares de homens e mulheres porque ficaram sem meios de subsistência – sem emprego – aos quarenta/cinquenta anos?
Não é da mais canalha violência colocar - numa comunidade que se exige nacional na construção de um Futuro comum –, de forma intencional, uns contra os outros, jovens contra velhos, mulheres contra homens, empregados contra desempregados, funcionários públicos contra trabalhadores “privados”, professores contra todos, militares como “inúteis”?
Tendo repudiado todas as palavras ponderadas, nossas e de tantos e tantos Seres Humanos que nos acompanham na nossa indignação, o Poder político refugia-se na máxima hipocrisia: “Não há alternativa”. Não percebe – melhor, finge não perceber! – que esta afirmação é a total e definitiva prova da ilegitimidade com que é exercido esse Poder: para a Democracia, é condição inultrapassável, insubstituível, inalienável, haver alternativas!
Da ilegitimidade provada da sua acção governativa, e denunciando o medo, ou a 
“impossibilidade de ter ideias” (Jorge de Sena), o Poder político coloca-se agora no território da irracionalidade.
Dar-se-á conta de que, defendendo – e agindo, impondo-o! – tão convictamente o dogma “Não há alternativa”, o governo está, incontornavelmente,
inquestionavelmente, a assumir TODA a responsabilidade pelos seus actos, e omissões, e, porque indiscutivelmente estes e estas são CAUSAS, também a assumir a responsabilidade pelas consequências que deles derivem? Nomeadamente os actos aleatórios, imprevisíveis, sem controlo, potencialmente violentos, eventualmente injustos, que o mundo dos humilhados, dos ofendidos, dos desprezados, dos descartáveis, venham a praticar – porque desesperados?
É que a estes, perdida a capacidade de expressar a sua indignação (porque as palavras se esgotaram), e negada qualquer perspectiva minimamente digna de um Presente e, muito menos, de um Futuro, resta-lhes apenas, como objectivo único, a sobrevivência.
Esta, tal como a legítima defesa, no mundo dos Seres Humanos, pode, e deve, ser 
enquadrada e ponderada, por Valores, Princípios, Ética.
Mas estes são conceitos, e práticas, que o governo demonstradamente não reconhece.
É possível nomear muitos dos responsáveis pelo “estado a que isto chegou”. Urge que não fiquem impunes, como um primeiro acto de muitos outros necessários para devolver a um Povo inteiro a confiança, no Outro e nas instituições, colectivamente indispensável a construção de um Futuro Digno e Comum.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Resistir, nunca desistir.


Entrámos no ano de todos os perigos e de todos os medos. Ninguém ameniza as perspectivas, e o primeiro-ministro acentuou a nossa angústia afirmando que nunca as coisas, depois do 25 de Abril de 74, tinham estado tão escuras. Os seus apaniguados, contentíssimos, aplaudiram as declarações, considerando-as sinal de honrada "transparência". Esqueceram-se, evidentemente, de que, à esquerda e à direita, gente altamente qualificada e sensata já advertira da tragédia próxima. E Passos Coelho continua a não reconhecer, claramente, o que a aplicação da ideologia neoliberal nos tem feito. Nem o que essa ideologia significa de risco para a própria democracia, cada vez mais acanhada até ao ponto de constituir uma humilhação e um desespero intoleráveis para quem nela acredita.
O ano traz, portanto, malvados prenúncios. E, embora sabedor da nociva sorte que nos aguarda, Passos Coelho não move uma palha para inverter a funesta tendência. Não move ou não sabe mover. A representação do poder demonstra enorme desprezo pelos protestos de rua, pelos movimentos de massas (o 15 de Setembro testemunhou a recusa da apatia e da resignação, pelas razões que em si mesmo comportava), pelos depoimentos e pelas declarações veementes de economistas, sociólogos, políticos, alarmados com o caminho para o desastre a que o País é impelido. Interpelado sobre se a população aguenta o caudal de restrições, impostos e constrangimentos, o banqueiro sr. Ulrich admitiu: "Aguenta! Aguenta!", num escabroso convencimento, a roçar o insulto e o impudor. É em criaturas deste jaez e estilo que o primeiro-ministro se apoia, pois elas mesmas caracterizam um dos pilares em que assenta a ideologia que defende.
A ideologia. Eis a questão capital. E o novo paradigma político e social, que nos tem sido imposto, inscreve--se nessa nova experiência do capitalismo, como emergência de sair da crise por si criada.
A regressão a que Pedro Passos Coelho nos obrigou contém uma incerteza dramática, que o atinge, atingindo-nos cruelmente. Ele abriu a caixa de Pandora e, agora, não sabe como fechá-la. É um tonto perigosíssimo. Arruinou a pátria, não somente a pátria política, social e económica mas, sobretudo, a pátria moral. Nem daqui a duas ou três décadas o desastre será remediado, diz quem sabe. O nefasto "rotativismo" ocultará ou dissimulará os erros e os crimes cometidos. Ninguém vai parar à cadeia, porque eles protegem-se uns aos outros, com o impudor de quem se reconhece acima de deus e do diabo.
É pungente assistir-se às torções do PS, como aos embustes, ao vazio de sentido dos discursos do PSD. Não desejo referir-me, neste texto, ao dr. Cavaco, por nojo e estrito resguardo mental. Desejo, isso sim, demonstrar o orgulho e a vaidade que sinto por pertencer a um povo como este, sofrido, cercado, mas decente e indomável.

BAPTISTA-BASTOS - DN