sexta-feira, 18 de maio de 2012

O caso Isaltino e a justiça.


Se alguém prevarica e não é castigado, não há comunidade que resista

É só mais um exemplo de como basta ter poder financeiro para escapar à prisão. Mas o processo que envolve Isaltino fez mais pela descredibilização dos tribunais que os casos Felgueiras, Valentim ou até mesmo que o Processo Face Oculta.
O caso Isaltino não tem nada a ver com fugas à justiça, provas materiais anuladas por questões processuais ou com interpretações dúbias do sentido da lei. Tem só a ver com uma questão simples: a justiça não consegue executar uma sentença condenatória de dois anos de prisão ditada pela Relação de Lisboa em Julho de 2010 por pura incompetência e por tudo permitir a um réu com uma equipa de advogados de excelência.
Num tempo de austeridade em que o Estado asfixia as empresas e as pessoas com uma carga fiscal nunca vista, a justiça não devia permitir que um réu condenado por fraude fiscal qualificada e por branqueamento de capitais conseguisse impedir a acção do sistema. Os tribunais são um elo muito importante de uma comunidade justa e honesta, pois ajudam a fortalecer uma moral pública em que está claro que quem prevarica é castigado. Se alguém prevarica e não é castigado, não há comunidade que resista.
Isaltino Morais faz o que que o deixam fazer – está no seu direito. A nossa lei permite quase tudo: de simples recursos a nulidades de decisões judiciais, passando por aclarações de despachos (por alegadamente não se perceber o que o juiz escreveu), pedidos de correcção de acórdãos, simples requerimentos com dezenas ou centenas de páginas e acabando em incidentes de recusa de juiz (Isaltino já vai em dois).
Desde que foi condenado em Agosto de 2009 pelo Tribunal de Sintra a sete anos de cadeia (sentença rectificada pela Relação), Isaltino já apresentou mais de 30 recursos e incidentes processuais dessa natureza que têm protelado a execução da sentença. Se é verdade que as diversas instâncias judiciais têm sido lentas (a acusação data de Janeiro de 2006...), não é menos verdade que o Estado de direito também passa por impedir abusos na utilização de expedientes processuais – objectivo que a reforma penal da ministra Paula Teixeira Cruz visa impedir.
Outra questão é a financeira. Para apresentar tais incidentes processuais, Isaltino Morais teve de pagar 62 781 de euros em impostos, um mínimo de 20 mil euros em pareceres e mais de 8 mil euros em taxas de justiça. Quantos portugueses podem gastar 90 mil euros em quase três anos?
A mensagem dos tribunais é devastadora para a credibilidade do Estado: vale a pena não declarar os rendimentos ao fisco e depositá-los na Suíça em nome de sobrinhos.

 Luís Rosa – Jornal I

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