terça-feira, 12 de junho de 2012

A paciência dos portugueses.


O senhor primeiro-ministro elogiou a paciência dos portugueses. É um elogio muito merecido. Efectivamente, os portugueses são um povo muito paciente.
Os portugueses têm paciência para um governo que, contra todas as suas promessas eleitorais, aumentou brutalmente os impostos e cortou salários e pensões.
Os portugueses têm paciência para que o governo tenha criado inúmeros grupos de trabalho e comissões, cujos membros são pagos a peso de ouro.
Os portugueses têm paciência para que um membro desses gabinetes regiamente pagos tenha exigido uma baixa geral de salários, sem naturalmente começar pelo seu.
Os portugueses têm paciência para ver o Tribunal de Contas denunciar irregularidades nas parcerias público-privadas sem que o governo denuncie esses contratos, apesar de altamente lesivos para o erário público.
Os portugueses têm paciência para que, decorrido um ano de governo, não haja uma única reforma estrutural de vulto que tenha visto a luz do dia.
Os portugueses têm paciência para assistir ao descrédito dos serviços secretos e à partidarização da escolha dos juízes do Tribunal Constitucional.
Os portugueses têm paciência para assistir ao desmoronamento do euro, sem que o governo nada mais faça do que aderir cegamente às posições alemãs.
Parafraseando Cícero, até quando vai o senhor primeiro--ministro abusar da paciência dos portugueses?

 Luís Menezes Leitão - Professor da Faculdade de Direito de Lisboa- Jornal I

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