sábado, 23 de junho de 2012

O Presidente fraco.


A 19 de Maio, neste jornal, enderecei ao Presidente da República uma "carta" na qual o instava a impedir a revisão do Código do Trabalho enviando o diploma para o Tribunal Constitucional ou vetando-o, "se necessário". Tolhido por receios ancestrais, o PR acaba de promulgar a lei que há-de aumentar o desemprego sem aumentar a produtividade. Haverá pois uma nova revisão das leis do trabalho mais justa.
No "comunicado da presidência", o PR justifica-se com o facto de apenas 15% dos deputados terem votado contra o decreto parlamentar, castigando assim o PS pelo seu vício solitário da abstenção repetida e estéril nas grandes questões. Na análise realizada no "âmbito da Casa Civil" – um mimo de desresponsabilização pessoal de Cavaco Silva – declara-se arbitrariamente que não foram "identificados indícios claros de inconstitucionalidade que justificassem a intervenção do Tribunal Constitucional". Essa opinião da Casa Civil é rebatida ponto por ponto por Monteiro Fernandes, especialista universitário em Direito de Trabalho, no ‘Público’ de 4ª feira. Aponta inconstitucionalidades no banco de horas, na eliminação dos feriados e na redução de férias e nos 7 dias de trabalho gratuito assim fornecido, na suspensão de cláusulas das convenções colectivos e no novo cálculo das compensações por despedimento. Monteiro Fernandes termina chamando a atenção para os efeitos nefastos da não-pronúncia preventiva do TC na segurança jurídica do novo código.
De facto, seria muito positivo que os juízes tivessem tido a oportunidade, que lhes foi negada pelo PR, de elaborar um acórdão sobre a matéria, eliminação de feriados incluída. Como escrevi na "carta" de 19 de Maio, caso Cavaco Silva não obstaculizasse essa eliminação de feriados como o 5 de Outubro – ou o 1º de Dezembro – "passaria a encará-lo como o regente timorato de um república envergonhada e diminuída". Mantenho. O mandato de Cavaco Silva ficará ligado à manobra política de ataque ao regime republicano em Portugal – não esquecer que Passos Coelho esteve ausente do início das celebrações do centenário na CML. Cavaco Silva tornou-se um presidente fraco cercado em Belém. Não deve contar com os republicanos para o tratarem por "Chefe de Estado" como no tempo da ditadura.

Medeiros Ferreira, Professor universitário - CM

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