domingo, 5 de janeiro de 2014

Eusébio, o exemplo!


Eusébio não foi apenas um genial jogador de futebol. Quem teve o privilégio de o ver jogar sabe que não era apenas o atleta da explosão fácil, da impressionante finta em corrida, dos espectaculares remates com qualquer dos pés que punham estádios em delírio. Foi um atleta invulgar, é certo. Dos melhores de sempre. E, embora eu fosse ainda um jovem já convictamente sportinguista, não perdia a oportunidade de o ver jogar, decidindo muitas vezes por ele em vez de uma tarde passada em Alvalade. Eusébio ensinou a gerações de jovens, pelo exemplo da atitude em campo, que o trabalho é feito de esforço e de alegria. Que é exactamente a capacidade de ultrapassar os limites do sofrimento, convertendo em esforço os restos das suas fraquezas e cansaços, o passo decisivo que entrega dimensão excepcional ao valor do trabalho.
Vi o Eusébio jogar com a cabeça ligada, com os joelhos desfeitos, gemendo de dores, a ser maldosamente rasteirado. Julgo mesmo que não terá havido atleta português que tenha levado tanta sarrafada, pontapeado pelo desespero de quem não sabia defrontar tamanho talento. A bola saía de campo, era do adversário, gentilmente Eusébio ia buscá-la e entregá-la. Colidia com um antagonista, era cuidadoso e havia sempre um gesto de ajuda. E depois era a Pantera Negra. Rápido como raros, intuitivo e elegante, e de uma alegria contagiante quando celebrava os muitos e espectaculares golos que marcou por esse mundo.
Nesse país cinzento em que então vivíamos, onde a própria alegria era objecto de censura, Eusébio transformou-se no ícone de gerações. A arte de jogar futebol com entrega desmedida à sua paixão. Cobiçado por ser assim. Invejado por ser assim. Sobretudo respeitado por ser assim. Eusébio sintetiza, na sua pureza e carácter como atleta, o que de melhor Portugal pode fazer. E, para nosso desencanto, é a antítese do país que hoje somos. Os vídeos dos seus jogos deveriam ser matéria obrigatória das aulas de formação cívica. Para mostrar como o talento, o trabalho e a vontade de vencer apenas se revelam na paixão, no empenho, na alegria e na solidariedade. Esta riqueza é o somatório que fez de Eusébio um sinal da história. Parabéns pelos 70 anos, grande herói! A Pátria saúda-te!
Escrevi este artigo de opinião em 2012, quando Eusébio fez setenta anos. Não retiro uma única palavra. Apenas acrescento uma: saudade!
Francisco Moita Flores.

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