domingo, 11 de novembro de 2012

Carta a Merkel


Minha Estimada Senhora: Deixe que a cumprimente e deseje boas-vindas ao nosso país. Não vai aprender muito, pois a visita é curta, para conhecer melhor este Portugal pequenino mas belo, arruinado mas marialva.
Um país e um povo que adora a Alemanha. Se nos conhecesse pelos electrodomésticos, desde frigoríficos até à banal torradeira, saberia que talvez metade das nossas casas são alemãs. E não falo dos automóveis. Aí somos verdadeiramente alemães. Seja como for, saberá que para além dos cumprimentos formais, não vai ser calorosamente recebida.
A senhora é a culpada maior de todos os males que aconteceram a esta terra nos últimos anos. É recebida, como diz Louçã, como uma assaltante que nos rouba encabeçando uma conhecida quadrilha de especuladores. É a líder de um pacto de agressão contra o País, diz Jerónimo de Sousa, a chefe de uma quadrilha internacional que decidiu esmifrar o tutano das nossas miseráveis carteiras. Mas desde logo vai perceber a nossa natureza. Somos pedinchões e aprendemos historicamente que a culpa é sempre dos outros. O nosso maior partido da oposição já lhe pediu mais investimento, centenas de analistas sabem que são inocentes e a culpa é sua. Está no país onde para beber uma cerveja, a bebida que tão bem conhece, pedimos tremoços. À borla, claro.
O nosso Governo, certinho, bom aluno, dar-lhe-á esse encantamento: podemos morrer à fome mas pagamos. No fundo, não ligue muito ao arraial de submissões que vai receber nem à berraria que a vai ensurdecer. Somos isto há séculos. O nosso saber, democraticamente distribuído, não vai além da Cartilha Maternal de João de Deus, embora com um poderoso exército de rapazes, ainda que improdutivos, com centenas de discursos morais sobre si, os outros e o País. Temos, por tudo isto, uma boa experiência na preguiça, no ressabiamento e em declararmo-nos sempre inocentes.
Quando partir, logo se arranjará culpado mais à mão. Vá com Deus, minha senhora. E se quiser arrumar todas as catilinárias contra si, compre uns jogadores de futebol. Por uns milhões valentes. O nosso bem-estar é a alma da bola. E verá que, por aí, será ovacionada à partida. E nós voltaremos aos tremoços e à imperial, discutindo aquilo que não somos para depois, já bêbedos, chorarmos a sua partida ao som do faduncho da desgraçadinha.

F. Moita Flores - CM

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