sábado, 10 de novembro de 2012

10 mil crianças contra Jonet e Merkel.


Isabel Jonet tem uma obra que fala por si. Rosto do Banco Alimentar contra a Fome, que dinamizou fortemente, foi escolhida por isso mesmo para presidente da associação de instituições europeias congéneres.
Não precisa, por isso, que a defendam. As declarações que fez sobre a necessidade de empobrecermos e nos habituarmos a viver com menos podem ser entendidas como uma colagem ao discurso do primeiro-ministro ou como uma convicção própria.
Mas quando acrescenta que em Portugal não existe miséria nem fome, o caso muda de figura. Mais que ninguém, Isabel Jonet sabe do que fala. A não ser que não considere fome nem miséria o facto de 10.385 crianças deste país estarem em situação de carência alimentar, como revelou o secretário de Estado da Educação, João Casanova de Almeida - e de 5.547 dessas tomarem a primeira refeição do dia na cantina da escola.
Lavar os dentes com água da torneira ou não comer bifes porque não há poder de compra são minudências ao pé disto. Fome é fome. E há crianças com fome em Portugal. São só dez mil? Mesmo que fosse só uma: não é aceitável que num país civilizado haja crianças com fome.
Jonet merece todos os elogios pelo que tem feito na área social. Mas é justamente criticada por considerar que não há fome em Portugal. Errou. Devia reconsiderar e corrigir as suas afirmações.
Quanto a Angela Merkel, que nos visita na segunda-feira e que tem repetidamente afirmado que o ajustamento português está a correr bem, deem-lhe apenas uma folha de A4 com este valor: em Portugal há 10.385 crianças que vão para a escola com fome. E não havia há dois anos.
Pode ser que ela considere normal. Mas pode ser que, depois de ver o número, reconsidere sobre o impacto profundamente negativo que este tipo de ajustamento está a ter sobre a sociedade portuguesa.

Nicolau Santos (www.expresso.pt)

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