A última emissão de obrigações alemãs a dois anos, cuja
contagem se inicia hoje, foi colocada no mercado a um escandaloso juro de
0,07%. Este valor, próximo do zero, significa que os investidores resolveram
emprestar as suas poupanças ao Estado alemão sem quererem nada em troca. Isto é
uma situação que mostra como a Europa está profundamente doente. O mercado está
contaminado pelo medo, pela incerteza, pela desconfiança. Mas é também um
escândalo, porque é a política alemã de terror económico para a Zona Euro, a
causa principal deste pânico. Não é o mérito da economia alemã que a transforma
num refúgio para investidores aflitos, mas, sim, o resultado da sua inflexível
política de intimidação por via da austeridade sem limites. Este é um caso em
que o crime vai compensando. Pelo menos enquanto a Zona Euro não implodir. No
jantar do Conselho Europeu de quarta-feira, Passos Coelho - contrariando Monti,
Hollande, Rajoy, Juncker, o FMI e a OCDE, entre muitos outros líderes e
instituições - apoiou Angela Merkel contra as euro-obrigações. O escândalo
racional da chanceler alemã é, assim, apoiado pelo mistério irracional do
comportamento do primeiro-ministro português. A lógica da subserviência tem na
decência, o seu limite moral, e no interesse nacional, o seu absoluto limite
político. Passos Coelho está a rasgar todos os limites. Ele não se pode enganar
no "P" ao serviço do qual se encontra. Ele foi eleito para servir
Portugal e os portugueses. Não para se comportar como se o nosso retângulo
fosse a província mais ocidental da Prússia.
VIRIATO SOROMENHO-MARQUES - DN
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