Numa semana em que os resultados eleitorais em França e na
Grécia deram o mote às notícias e novo alento aos que, por essa Europa fora,
não acreditam nas receitas da senhora Merkel, em Portugal, o desemprego galopou
para números catastróficos, ultrapassando largamente as previsões do governo e
da União Europeia, tendo marcado o crescente descrédito das políticas de
austeridade do governo e colocado em causa o cumprimento das metas do
“equilíbrio orçamental”. É preciso lembrar, para perceber os efeitos dos
caminhos trilhados, que nas “previsões de Outono” de 2010, a Comissão Europeia
estimava uma taxa de desemprego em Portugal, para 2011, de 11,1 % e de 11,2%,
em 2012. No primeiro trimestre deste ano já ultrapassou os 14% e a Comissão
Europeia, prevê agora que atinja os 15,5% ainda este ano.
Os franceses despejaram Sarkozy do Eliseu, impedindo um
presidente de cumprir um segundo mandato, facto raro na história da república
francesa. Com esta decisão, os eleitores franceses quebraram a principal muleta
em que a chanceler alemã se apoiava para distribuir pobreza e penitência nos
territórios a sul do seu “Império”, o que não pode ser desprezado, sobretudo
pelo que Hollande defendeu durante a campanha eleitoral. De modo diferente, mas
no mesmo sentido, os gregos também não estiveram pelos ajustes e, perdidos por
cem, perdidos por mil, fizeram um manguito à senhora Merkel, à troika e aos
partidos políticos gregos que lhes querem impor mais fome e sofrimento,
procurando trocar as voltas ao destino. Os resultados destas duas eleições
complementam-se: quer a vitória de Hollande, em França, quer a “revolta
eleitoral” grega, com a provável repetição das eleições, em Junho, obrigam a
colocar em cima da mesa das Cimeiras Europeias novos problemas e a ensaiar
novas soluções. Pelo menos, regressou ao léxico político europeu o crescimento,
o emprego e a coesão, palavras malditas nos últimos dois anos. O que não é
pouco.
Na semana em que o rumo para a miséria dos povos europeus,
sobretudo os do Sul, definido pela senhora Merkel como o caminho da redenção, é
posto em causa por franceses e gregos, o nosso primeiro--ministro, um dos mais
zelosos partidários do “quanto mais pobre, melhor”, voltou a surpreender.
Passos Coelho exortou os portugueses a adoptarem uma “cultura de risco” e
considerou que o desemprego é “uma oportunidade para mudar de vida”. E concluiu
a sua “brilhante” linha de pensamento, dizendo que os jovens e a população em
geral preferem “ser trabalhadores por conta de outrem do que empreendedores”. É
preciso estar muito afastado dos problemas dos portugueses, em geral, e dos
desempregados, em particular, para proferir estas declarações copiadas das
notas de rodapé dos desactualizados “manuais de economia” dos “Chicago Boys”. É
insensibilidade social, naturalmente; mas, sobretudo, é a cega repetição de
frases feitas da cartilha liberal, o que leva Passos Coelho ao ridículo de
propor que, em período de recessão, com a banca descapitalizada, com milhares
de empresas a encerrarem, mais de meio milhão de portugueses, sem dinheiro para
comer, constituíssem empresas e assumissem o “risco” de “mudar de vida”. É uma
“proposta” má de mais para sair da cabeça de um primeiro-ministro, o que revela
o destino que nos está traçado com este governo.
PS – A senhora Merkel teve ontem mais um desaire eleitoral.
Na Renânia do Norte-Westfália, segundo as últimas informações, os
sociais-democratas obtiveram 38% dos votos, enquanto a CDU, encabeçada pelo
Ministro do Ambiente, alcançou 25%. Os Verdes, parceiros de coligação do SPD,
chegaram aos 12%. No entanto, como a chanceler alemã governa a Europa sobretudo
a pensar na sua reeleição em 2013, é natural que endureça o discurso da
austeridade e da “disciplina orçamental” para os países do Sul para convencer
os eleitores alemães dos seus “prodígios” de gestão. Depois da saída de cena do
senhor Sarkozy em 2012, a saída da senhora Merkel em 2013, abriria uma nova
porta para a renovação da União Europeia.
Tomás Vasques
- Jurista - Jornal I
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