O confisco de um ou dois salários aos trabalhadores
portugueses significará menos consumo, mais falências, mais desemprego, pior
economia. Não interessa a ninguém? Não. Interessa às grandes (muito grandes)
empresas, interessa à troika , interessa ao diretório europeu, interessa a
quem, na verdade, manda: a grande burguesia financeira e industrial. Passos
Coelho, o arauto triste, não conta. Porquê?
Porque o governo do Estado moderno é apenas um comité de
gestão dos negócios comuns de toda a classe burguesa.
Na sociedade burguesa, o capital é independente e pessoal
enquanto o indivíduo que trabalha não tem independência nem personalidade.
Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a
burguesia invade todo o globo. Necessita estabelecer-se em toda a parte,
explorar em toda a parte, criar vínculos em toda a parte.
A resultante obrigatória dessas transformações foi a
centralização política. Províncias independentes, apenas ligadas por debéis
laços federativos, possuindo interesses, leis, governos e tarifas aduaneiras
diferentes, foram unidas numa só nação, com um só governo, uma só lei, um só
interesse nacional de classe, uma só barreira alfandegária.
Em virtude da concorrênca crescente dos burgueses entre si e
devido às crises comerciais que daí resultam, os salários tornam-se cada vez
mais instáveis.
O preço médio que se paga pelo trabalho por conta de outrem
é um mínimo de salário, ou seja, é a soma dos meios de subsistência necessários
para que o operário viva como operário.
Depois de sofrer a exploração do fabricante e de receber o
seu salário em dinheiro, o operário torna-se presa de outros membros da
burguesia: do proprietário, do retalhista, do banqueiro, etc.
As camadas inferiores da classe média de outrora, os
pequenos industriais, pequenos comerciantes e pessoas que possuem rendas,
artesãos, camponeses, caem nas fileiras do proletariado.
De que maneira consegue a burguesia vencer as crises? Por um
lado através da destruição violenta de uma grande quantidade de forças
produtivas; por outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração
mais intensa dos antigos. A que leva isso? À formação de futuras crises, mais
extensas e destruidoras, e à diminuição dos meios capazes de evitá-las...
Tudo isto que acabou de ler, a partir do segundo parágrafo,
foi escrito há 164 anos. É do Manifesto do Partido Comunista. É Marx e Engels.
Soa a chavão. Mas quando vi, sexta-feira, Passos Coelho na TV, senti-me no
século XIX.
PEDRO TADEU - DN
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