A fauna e a flora
subaquáticas das Berlengas, ao largo de Peniche em pleno Atlântico, estão cada
vez mais mediterrânicas, afirmam os cientistas que estão até dia 30 a
participar naquela que é a maior expedição científica à zona.
Desde segunda-feira a bordo do antigo bacalhoeiro 'Creoula',
Estibaliz Berecibar parte para mais um mergulho, em conjunto com outros
investigadores, em busca dos muitos segredos ainda por revelar pela riqueza
subaquática das Berlengas, Reserva da Biosfera da Unesco.
O arquipélago é considerado o maior viveiro natural da costa
oeste atlântica, não só por ser a fronteira entre as águas frias e quentes, mas
também por beneficiar da proximidade ao Canhão da Nazaré.
O mergulho, entre os mais de 24 já realizados a 30 metros de
profundidade, veio a revelar-se numa nova descoberta. Pela primeira vez, a
investigadora observou nas Berlengas duas espécies de algas ('gloiocladia
microspora' e 'digenea simplex') típicas do Mar Mediterrâneo, à semelhança de
outras.
Após observar fenómenos de emigração idênticos em relação a
outras espécies, a bióloga acredita cada vez mais que "as Berlengas são o
limite norte para muitas espécies do Mediterrâneo", que nos últimos anos
começaram a expandir-se para a costa oeste do Atlântico.
"A paisagem debaixo de água está a ficar mais
tropicalizada", afirma, e uma das justificações apontadas pode estar
relacionada com as alterações climáticas.
Frederico Dias, coordenador da missão, não descura também as
correntes marítimas "que saem do Estreito de Gibraltar e que têm tendência
a virar para norte", permitindo a fixação de espécies nas Berlengas, dadas
as excelentes condições naturais que aí encontram.
Por outro lado, é a oeste das Berlengas que se situa um
importante "corredor marítimo de navios da Marinha mercante oriundos do
Mediterrâneo", cujos cascos poderão trazer algumas dessas espécies que
acabam por conseguir sobreviver e desenvolver-se nas Berlengas.
A bordo do 'Creoula', cujo convés mais parece um laboratório
ao ar livre, a restante equipa estuda e cataloga as espécies e aguarda em
grande expectativa cada saída de mergulho. Desde o início da expedição, já
foram observadas 50 novas espécies nas Berlengas a juntar-se às cerca de 400 já
conhecidas, nomeadamente 'briozoários' (animais que parecem plantas), um coral,
um peixe, algas e 'poliquetas' (semelhantes a vermes).
A campanha é promovida pela Estrutura de Missão para a
Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), envolvendo cerca de 80 pessoas,
entre mergulhadores, investigadores e estudantes universitários que, repartidos
em dois grupos, estão a fazer a cartografia e caracterização de espécies e
habitats existentes nas Berlengas.
Flávia Calçada - Agência Lusa
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