A história do movimento operário internacional está recheada
de acontecimentos e datas extremamente importantes. O 1º de Maio assume,
indiscutivelmente, particular relevo e o mais profundo significado histórico.
A este dia estão intimamente
ligadas muitas das maiores e mais exaltantes jornadas e movimentações de luta
da classe operária, que, com sofrimento, coragem e determinação, demonstrou
claramente o quanto é capaz a vontade colectiva dos trabalhadores para melhorar
as suas condições de vida e de trabalho, vencer injustiças e desigualdades
sociais, mudar mentalidades, transformar as sociedades e pôr fim à exploração
do homem pelo homem.
AS ORIGENS DO 1º
DE MAIO
Pesem embora algumas
deturpações e desvirtuamentos produzidos pelo arsenal ideológico do capital, é
generalizadamente reconhecido que as origens do 1.º de Maio estão associadas
aos trágicos acontecimentos que ocorreram em 1 de Maio de 1886, na cidade
norte-americana de Chicago.
Todavia, para se
ter uma visão dialéctica do seu significado histórico, importa assinalar que,
na sequência da Revolução Industrial, verificada nos finais do século XVIII, o
operariado era objecto de uma intensíssima e desumana exploração, que se
traduzia em imensas privações e brutalidades, sendo forçado a trabalhar 12, 14,
16 e mais horas por dia, na indústria e no comércio e, de sol a sol, na
agricultura.
A exploração desmedida, sem qualquer tipo de escrúpulos, do
trabalho infantil e do trabalho feminino era uma fonte suplementar de lucro
para o empresário capitalista.
Passada a revolta
inicial contra as máquinas, por considerarem serem elas as causadoras dos seus
sofrimentos, a classe operária, nascente, e os trabalhadores, em geral,
encontram nas ideias contidas no Manifesto Comunista de Marx e Engels,
publicado em 1848, as respostas sobre as verdadeiras causas que estão na origem
de tão desumana e feroz exploração e sobre os caminhos a trilhar.
As causas estavam no
sistema capitalista, cujo modo de produção se baseia na apropriação privada dos
meios de produção e na exploração desenfreada de quem neles trabalha, para a
obtenção do máximo lucro, e o caminho apontado era a unidade, a organização e a
luta. A palavra de ordem era: PROLETÁRIOS DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!
Animado e estimulado por estas ideias, o operariado
empreende lutas constantes centradas na redução da jornada de trabalho, por
melhores salários e contra a exploração, procurando pôr termo a esta desumana e
intolerável situação.
É assim que, em 1866,
o Congresso de Genebra da 1ª Internacional estabelece como objectivo a
limitação da jornada de trabalho em 8 horas como “condição indispensável ao
êxito de qualquer outro esforço emancipador” e adopta, como divisão racional do
tempo diário de trabalho, 8 horas de trabalho, 8 horas de descanso e 8 horas
para a cultura e a educação, que se converte em exigência iniludível para a
protecção do trabalhador como ser humano.
É neste contexto que
a Federação dos Trabalhadores dos Estados Unidos e do Canadá, numa conferência
anual, que teve lugar em Dezembro de 1885, convoca uma greve geral para o dia 1
de Maio de 1886, pelas 8 horas.
No âmbito desta
greve, a que aderiram muitos milhares de trabalhadores, realizaram-se diversas
e grandiosas manifestações.
Foi num comício de
massas, realizado no dia 4 de Maio, na Praça Haymarket (Mercado do Feno), em
Chicago, que foi montada uma manobra provocatória, que constou do rebentamento
de uma bomba, colocada de propósito para justificar uma feroz e sangrenta repressão
que se abateu sobre os manifestantes, que provocou várias mortes e centenas de
feridos e levou à prisão de centenas de militantes sindicais, sendo de
distinguir a de oito destacados dirigentes, mais tarde conhecidos como os “oito
mártires de Chicago”, sete dos quais condenados à pena de morte e o outro a 15
anos de prisão.
Mas esta heróica luta
não foi em vão, porque 50.000 dos operários em greve conquistaram imediatamente
o dia de 8 horas de trabalho, enquanto outros 200.000 conseguiram uma certa
redução do horário de trabalho.
Os trágicos
acontecimentos de Chicago tiveram um grande significado, não só para os
operários norte-americanos, mas também para todo o proletariado mundial, tendo
merecido da parte deste a mais viva solidariedade e enérgica condenação.
De tal modo que, em 1889, os representantes dos movimentos
socialistas de diversos países se reúnem em Paris e resolvem internacionalizar
o 1.º de Maio, declarando-o dia de luta do proletariado, pela jornada de oito
horas, e marcando para o 1.º de Maio seguinte, 1890, manifestações simultâneas
em todos os países.
Nascia, assim, o Dia Internacional do Trabalhador e estava
dado um novo e importante passo na luta do Trabalho contra o Capital.
O 1.º DE MAIO EM PORTUGAL
Desde o primeiro ano das comemorações do 1.º de Maio, em
1890, até aos dias de hoje, passando pela monarquia, pela 1.ª República e
durante a ditadura fascista, o operariado português sempre comemorou
activamente o Dia Internacional do Trabalhador, em unidade e luta e com
solidariedade internacionalista, reclamando junto do patronato e das
autoridades portuguesas o estabelecimento das 8 horas de trabalho diário e a
melhoria das suas condições de vida e de trabalho.
Neste percurso
histórico, os ecos da Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, chegam a
Portugal e suscitam um grande entusiasmo nos trabalhadores portugueses.
Em 1919, após um 1.º
de Maio grandioso, é conquistada e consagrada, em Lei, a jornada das 8 horas
diárias e 6 dias de trabalho por semana, ainda que só para os trabalhadores da
indústria e do comércio.
Na ditadura fascista
- que suprimiu as liberdades fundamentais, fascizou os sindicatos e oprimiu o
nosso povo durante 48 anos – o regime, desde cedo, procurou impedir as
comemorações do 1.º de Maio. Em vão, porque, de acordo com a situação concreta
em cada momento, o proletariado português, sob a orientação do PCP, soube
sempre encontrar as formas mais apropriadas à sua comemoração, não obstante a
repressão de que era alvo.
As lutas do 1.º de
Maio de 1962, nas quais se empenham mais de 150 mil trabalhadores agrícolas do
Sul, do Ribatejo e do Alentejo, acabam por impor o reconhecimento das 8 horas
de trabalho diário, pondo termo ao feudal sol a sol.
Apenas 6 dias após a manhã da liberdade, o povo português
comemorou o mais espantoso 1.ºde Maio, organizado pela Intersindical, criada em
1970. Era a alegria incontida de um povo que enterrava 48 anos de terror, de
miséria, de obscurantismo. Era a consagração popular do 25 de Abril.
Pela primeira vez, dando satisfação a uma reivindicação da
Intersindical, o 1.º de Maio era consagrado feriado nacional.
É em honra da memória dos “mártires de Chicago”e da luta de
gerações e gerações de revolucionários, muitos deles com o sacrifício da
própria vida, e contra a exploração capitalista que temos o dever e a obrigação
de tudo fazer para que se desenvolva e intensifique a luta de massas por uma
ruptura com as políticas de direita e para que as comemorações do 1.º de Maio,
constituam uma imponente jornada internacionalista de unidade e luta por uma
sociedade mais justa, fraterna e solidária, sem exploradores nem explorados.
Terça-feira colocar-me-ei ao lado
daqueles que o pretendem lembrar saindo á rua para lutar por melhores
condições de vida e pelo regresso de um 1º. de Maio igual ao de há 38 anos.
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