No obscuro jogo em que tornou a aplicação do memorando com a
"troika", o Governo tem frequentemente anunciado, com indisfarçável
orgulho, que foi "além da troika". Esconde é que, ao mesmo tempo, tem
ficado "aquém da troika". E só se surpreende que o Governo vá
entusiasticamente "além da troika" sempre que se trata de penalizar
os pobres e as classes médias e fique "aquém da troika" quando toca a
grandes grupos económicos ou à banca (que não são coisa substancialmente
diferentes) quem não conhece as inclinações ideológicas de PSD e CDS e a rede
de interesses que se move à sua volta e com a qual se confundem.
Surpreendeu-se foi a "troika" que, no relatório de
avaliação do cumprimento do memorando, ontem divulgado, estranha que a redução
do défice tarifário no sector eléctrico "através da redução das rendas
excessivas" pagas pelo Estado à EDP, não tenha sido "tratado
adequadamente".
O que a "troika" decerto ignorará é que no sector
eléctrico português avulta o "compagnon de route" deste Governo e do
anterior, António Mexia, CEO da EDP e cabeça visível do polvo de interesses que
domina o sector. Um bicho, o polvo, tão poderoso que um ingénuo secretário de
Estado da Energia, Henrique Gomes, tentou, em cumprimento do memorando,
mordiscá-lo e foi imediatamente demitido por Mexia (ou terá sido por Passos
Coelho?).
Para compensar, o desemprego já vai, segundo o Eurostat, em
15%, muito "além da troika"...
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