Um amigo alemão dizia-me, há meses, que para perceber a
política de Merkel era preciso ler, todos os dias, a primeira página do
influente e sensacionalista jornal Bild. Se ele tiver razão, não terá escapado
à governante alemã o contundente texto recentemente publicado nas páginas desse
diário pelo seu antigo mentor, o ex-chanceler Helmut Kohl. Com a sabedoria da
idade, e a vasta experiência de estadista, Kohl vai ao essencial. A Alemanha
não tem futuro fora de uma Europa unida. "Os maus espíritos do passado
estão longe de ter sido banidos." A questão da guerra e da paz, se a
Europa falhar a sua unidade, voltará à agenda. "Guerra nunca mais!"
(Nie wieder Krieg!). Exclama, com veemência, aquele que, com apenas 15 anos de
idade, ainda lutou nas últimas semanas da II Guerra Mundial, quando a Alemanha
era um imenso inferno de massacres e ruínas. No Governo da senhora Merkel já
não há veteranos de guerra. Os seus ministros, medíocres em Economia e
Finanças, ainda são piores em História. Não percebem que ela é a sabedoria
sedimentada dos povos. A Alemanha é o país do meio. Ocupa a área geoestratégica
mais vulnerável da Europa. De Frederico II ao III Reich, a história alemã é o
pesadelo da guerra em duas frentes. Se a bancarrota da Grécia desencadear uma
catástrofe capaz de conduzir ao colapso da NATO (com o afastamento dos EUA da
cena europeia) e à fragmentação da União Europeia em pelo menos dois blocos,
separados pelo Reno, a Alemanha ficará entalada entre a "force de
frappe" francesa, e uma Rússia, onde Putin não deixará de usar o arsenal
nuclear e a chantagem energética para fazer de Berlim um vassalo útil. Em 2012,
os alemães estão seguros e confiantes. Em 2015, talvez tenham de rasgar os
dedos no carvão para se aquecerem no inverno.
DN - VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
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