Que, como há 50 anos, um bispo tenha de novo erguido a voz,
fazendo "política" em vez de se remeter à sacristia, eis o escândalo
que agita hoje esta espécie de tempos democráticos e de liberdade de expressão
em que vivemos.
Também em 1958 a Igreja institucional se demarcou da carta
do bispo do Porto a Salazar. Revelaria mais tarde D. António que até "da
Cúria vaticana alguém [lhe] disse: "Bem sabemos que isso é doutrina da
Igreja; mas se, de um lado e de outro sabemos isso, para que estar a
pregá-lo?".
Em muitos aspectos, essa carta é hoje de novo singularmente
actual: voltaram à rua o "mendigo, o pé-descalço, o maltrapilho, o farrapo
(...), os subalimentados"; e o "financismo 'à outrance'", o
"economismo despótico", o "benefício dos grandes contra os
pequenos", o "ciclo da miséria" são outra vez "o centro da
Nação".
Por isso, mais actuais que nunca são também os versos de
Sophia: "Porque os outros se mascaram mas tu não/ Porque os outros usam a
virtude/ Para comprar o que não tem perdão./ Porque os outros têm medo mas tu
não./ Porque os outros são os túmulos caiados/ Onde germina calada a podridão./
Porque os outros se calam mas tu não./ Porque os outros se compram e se vendem/
E os seus gestos dão sempre dividendo./ Porque os outros são hábeis mas tu
não./ Porque os outros vão à sombra dos abrigos/ E tu vais de mãos dadas com os
perigos./ Porque os outros calculam mas tu não".
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