Os negócios dominam a vida política. A confusão entre
interesses privados e públicos é regra. O maior antro deste tráfico de
influências é a Assembleia da República. Desde a comissão parlamentar de
acompanhamento ao programa de assistência financeira, onde os interesses da EDP
estão representados através dos deputados Pedro Pinto e Adolfo Mesquita Nunes,
até à comissão de agricultura, onde o parlamentar Manuel Isaac fiscaliza a
actividade do Ministério que tutela o sector da empresa a que está ligado. São
dezenas os deputados que, de forma aparente, potencial ou real, estão em
situação de conflito de interesses.
Mas a promiscuidade não se esgota aqui. Contamina até o
Banco de Portugal, em cujos órgãos sociais têm assento representantes da banca
privada como António de Sousa, que assim se pronunciam e condicionam a
actividade do Banco Central, que supervisiona as entidades para que trabalham.
Só neste caldo de cultura poderiam nascer negócios ruinosos
como as parcerias público-privadas rodoviárias, com lucros garantidos aos
privados e riscos a correr por conta do estado. O que talvez se perceba se
atentarmos que os principais administradores das concessionárias das PPP são os
ex-ministros das obras públicas dos governos que as conceberam e implementaram.
Como Ferreira do Amaral gizou o negócio da Ponte Vasco da Gama e preside hoje à
entidade concessionária, a Lusoponte; ou Jorge Coelho e Valente de Oliveira que
são administradores da Mota Engil, a empresa dominante no sector das parcerias.
O poder dos negócios sobre o interesse público é tal que um
grupo privado, o Mello, consegue dispor de crédito de quinhentos milhões dum
banco público, a Caixa, para uma operação de aquisição de uma empresa privada,
a Brisa; para que mais tarde esta se possa eventualmente candidatar à
privatização de uma empresa pública, a ANA. Aterrador! Os administradores da
Caixa, nomeados politicamente, já não são só promíscuos, parecem mercenários.
Os interesses privados capturaram os agentes políticos e
alimentam-se da enorme manjedoura que é o orçamento de estado. Como diria
Bordalo Pinheiro, "a política é uma porca em que todos querem mamar".
E neste regime, os mamões estão insaciáveis.
Paulo Morais, professor universitário-CM
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