O senhor primeiro-ministro elogiou a paciência dos
portugueses. É um elogio muito merecido. Efectivamente, os portugueses são um
povo muito paciente.
Os portugueses têm paciência para um governo que, contra
todas as suas promessas eleitorais, aumentou brutalmente os impostos e cortou
salários e pensões.
Os portugueses têm paciência para que o governo tenha
criado inúmeros grupos de trabalho e comissões, cujos membros são pagos a peso
de ouro.
Os portugueses têm paciência para que um membro desses
gabinetes regiamente pagos tenha exigido uma baixa geral de salários, sem
naturalmente começar pelo seu.
Os portugueses têm paciência para ver o Tribunal de
Contas denunciar irregularidades nas parcerias público-privadas sem que o
governo denuncie esses contratos, apesar de altamente lesivos para o erário
público.
Os portugueses têm paciência para que, decorrido um ano
de governo, não haja uma única reforma estrutural de vulto que tenha visto a
luz do dia.
Os portugueses têm paciência para assistir ao descrédito
dos serviços secretos e à partidarização da escolha dos juízes do Tribunal
Constitucional.
Os portugueses têm paciência para assistir ao
desmoronamento do euro, sem que o governo nada mais faça do que aderir
cegamente às posições alemãs.
Parafraseando Cícero, até quando vai o senhor
primeiro--ministro abusar da paciência dos portugueses?
Luís Menezes
Leitão - Professor da Faculdade de Direito de Lisboa- Jornal I
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