O CDS de Paulo Portas exibe os pergaminhos de ser o partido
dos valores da "História de Portugal", do território e das pessoas
que o habitam. Pois, chegou a hora de Portas o provar. Porque o CDS está a
fazer, através de Assunção Cristas, ministra da Agricultura e Ambiente, e de
Daniel Campelo, secretário de Estado das Florestas, um demencial ataque ao
território. Num ano em que a área ardida mais que duplicou face ao ano anterior,
o Governo quer liberalizar a plantação de eucaliptos em qualquer terreno,
esquecendo que nada tem sido mais grave do que as vastas áreas plantadas em
monocultura, como a do eucalipto, para que os fogos se tornem incontroláveis,
os solos cada vez mais pobres e o despovoamento do Interior irreversível.
A Proposta de Lei de Cristas e Campelo permite aos
proprietários de terrenos com menos de cinco hectares mudar de espécie
florestal sem qualquer tipo de autorização. Todos sabemos qual é a mais
rentável: o eucalipto. Quem quer esperar 80 anos por um sobreiro, ou 50 para
vender madeira de carvalhos ou nogueiras? E no entanto, estas são as espécies
que garantem a biodiversidade portuguesa, a fertilidade dos solos, uma boa
gestão dos recursos hídricos e mais resistência ao avanço do fogo.
Um exemplo: 95% da área que é hoje pinhal tem menos de cinco
hectares. Com esta proposta o Governo autoriza, em nome da
"desburocratização", a liberdade de se mudar do menos rentável
pinheiro para o eucalipto... Esquecendo que o eucalipto é uma árvore
australiana e se tornou por cá numa invasora imparável.
Além disso, até aqui, as áreas ardidas não podiam ser
replantadas com eucaliptos se antes ele não estivesse lá. A partir desta
proposta do Governo, luz verde ao eucalipto... Querem melhor convite para pôr a
arder o que resta de castanheiros ou carvalhos? Preparem os carros de bombeiros
para o próximo verão... Mas pior ainda: mesmo nas áreas acima dos 10 hectares,
apesar da autorização para se plantar eucaliptos ser ainda exigida, ela fica
automaticamente aprovada se os serviços públicos não responderem em 30 dias.
Ora, com a redução de funcionários, está aberta a porta para que passe tudo
tacitamente... Um parêntesis: sabem quanto custa o combate aos incêndios por
hectare? 25 euros. Este ano arderam 110 mil hectares, área duas vezes e meia
maior do que a do ano passado. Combates pagos por todos nós. Qual a solução?
Carros, bombeiros, helicópteros... Falso: é a floresta, estúpido!
Com esta medida, o CDS dá mais um salto no tempo: passa do
"Partido da Lavoura" para o partido do "petróleo verde"
inaugurado pelos governos Cavaco (lembram-se da GNR a bater em populares em
1988 em Valpaços, por estes serem contra a eucaliptização?). O rasto de miséria
e devastação do território desta Proposta de Lei do Governo será, a prazo,
ainda mais nociva que a dívida, os défices e a troika, juntos.
Exportamos muito papel e isso é bom? As coisas têm de ser
q.b.. Porque as consequências de mais eucaliptos, para além de mais fogos, são
a desertificação dos solos, envenenamento das albufeiras com as cinzas,
diminuindo cada vez mais a qualidade da água potável. Uma terra sem minerais
por décadas ou séculos... E terreno onde esteve eucalipto, só nasce eucalipto.
Nem precisa de se plantar. Mas arrancá-los custará milhões.
A campanha do trigo de Salazar, no Alentejo, foi um êxito
social e económico na altura. Hoje, nas terras usadas para a autossuficiência
salazarista, resta pouco. O trigo plantado pelo ditador visionário em solo sem
capacidade para o produzir provocou uma ferida na terra que vai demorar sete
mil anos a regenerar. E agora vejam o alcance desta medida do Governo: permitir
eucaliptos até nos mais férteis solos agrícolas nacionais - apesar da nossa
dependência alimentar.
Bem sei que Paulo Portas daqui a 30 ou 40 anos já não estará
na política activa e hoje isto dá votos - a malta gosta de sacar umas massas com
uma árvore que cresce sozinha e que de 10 em 10 anos se vai cortar fácil. É
dinheiro em caixa sem trabalho nenhum. Mas é o fim do Interior e da agricultura
de que precisamos. Portas ficará na História como o homem da
"Lavoura" sim, porque, afinal, acabou de vez com ela.
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