1 - Sempre que se realiza uma grande competição desportiva, europeia
ou mundial, a opinião pública dos vários países pede triunfos, medalhas.
Em alguns lugares do mundo isso faz sentido.
O Estado assume políticas, promove investimentos, atribui
bolsas e estágios, garante emprego e, assim sendo, os cidadãos, que tudo pagam,
têm legitimidade para questionar os resultados e assumir posições exigentes.
Infelizmente, essa não é a realidade portuguesa.
O Estado tem sido incompetente para enquadrar o movimento
associativo. Não aposta no desporto escolar como forma de descobrir jovens
talentos. Descura as suas responsabilidades como tutela que deve estabelecer
objetivos, definir políticas. Limita-se a atribuir uns subsídios e lava as mãos
dos resultados. São, aliás, assim as chamadas elites de "decisores"
nacionais: convicções, empenhamento e responsabilidade não é nada com eles.
Estão sempre do lado da análise e empenhados no projeto seguinte.
Incompetência, portanto.
No que aos responsáveis do desporto diz respeito, a regra
tem sido o almoço e o jantar, o convite do senhor presidente e umas medalhas
mediáticas. Zero!
2 - De quatro em quatro anos, por altura dos Jogos Olímpicos,
a realidade fica à vista.
As poucas medalhas vêm do trabalho dos clubes, patrocinados
pelas grandes empresas nacionais. De vez em quando há alguma federação que se
destaca pelo bom trabalho, como agora acontece no remo e na canoagem, antes no
judo (e igualmente no atletismo, que tem qualidade à escala europeia).
A grande realidade, no entanto, é que o desporto português,
descontando o caso do cluster do futebol, tem dificuldade em competir ao mais
alto nível porque o Estado, como os atletas que descendem das suas fracas
políticas, apenas cumpre os mínimos. Antes não programa - atribui subsídios
mediante compromissos elementares. E depois, hipocritamente, esquece os poucos
homens e mulheres que no desporto conseguem ir além da vulgaridade. Não utiliza
nem os seus conhecimentos nem a sua capacidade de mobilização da juventude.
Carlos Lopes é o símbolo máximo desses campeões esquecidos. Infelizmente há
mais.
3 - O caso português é tanto mais evidente quanto contrasta
negativamente com a realidade da União Europeia, que em Londres voltou a
creditar-se como o espaço mais evoluído do mundo em termos desportivos.
Os atletas da União Europeia conquistaram 92 medalhas de
ouro, mais do que os Estados Unidos (46) e a China (38) juntos. No total, com
prata e bronze, 306 medalhas, contra 104 dos Estados Unidos, 88 da China e 82
da Rússia. Mesmo descontando o facto de ter competido com mais atletas e mais
equipas nos desportos coletivos, a União Europeia marca claramente a diferença
e, nela, o desporto nacional acentua a sua mediocridade: a prata dos canoístas
Fernando Pimenta e Emanuel Silva iguala Chipre e só deixa para trás a Áustria,
Luxemburgo e Malta.
Neste contexto, os atletas nacionais devem ser, em vez de
criticados, elogiados pelo que conseguem fazer. Competem com profissionais cuja
elite trabalha descansada porque têm empregos garantidos para depois da alta
competição, apoios certos, bolsas que permitem uma vida normal às famílias a
que pertencem - ou, então, representam sociedades onde os patrocinadores não se
dedicam apenas ao futebol.
Mais, enquanto não mudar a mentalidade dos governantes, não
é sério exigir mais aos atletas portugueses em Jogos Olímpicos.
Tão estúpido quanto exigir medalhas à maioria dos nossos
atletas é pedir aos bombeiros que apaguem todos os fogos com prontidão quando a
nossa floresta é aquilo que se sabe, também fruto de falta de políticas
adequadas e da devida responsabilização dos proprietários. Pode ser que a fúria
reformista chegue um dia destes a estes sectores, quem sabe...?
JOÃO MARCELINO - DN
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