Minha Estimada Senhora: Deixe que a cumprimente e deseje
boas-vindas ao nosso país. Não vai aprender muito, pois a visita é curta, para
conhecer melhor este Portugal pequenino mas belo, arruinado mas marialva.
Um país e um povo que adora a Alemanha. Se nos conhecesse
pelos electrodomésticos, desde frigoríficos até à banal torradeira, saberia que
talvez metade das nossas casas são alemãs. E não falo dos automóveis. Aí somos
verdadeiramente alemães. Seja como for, saberá que para além dos cumprimentos
formais, não vai ser calorosamente recebida.
A senhora é a culpada maior de todos os males que
aconteceram a esta terra nos últimos anos. É recebida, como diz Louçã, como uma
assaltante que nos rouba encabeçando uma conhecida quadrilha de especuladores.
É a líder de um pacto de agressão contra o País, diz Jerónimo de Sousa, a chefe
de uma quadrilha internacional que decidiu esmifrar o tutano das nossas
miseráveis carteiras. Mas desde logo vai perceber a nossa natureza. Somos pedinchões
e aprendemos historicamente que a culpa é sempre dos outros. O nosso maior
partido da oposição já lhe pediu mais investimento, centenas de analistas sabem
que são inocentes e a culpa é sua. Está no país onde para beber uma cerveja, a
bebida que tão bem conhece, pedimos tremoços. À borla, claro.
O nosso Governo, certinho, bom aluno, dar-lhe-á esse
encantamento: podemos morrer à fome mas pagamos. No fundo, não ligue muito ao
arraial de submissões que vai receber nem à berraria que a vai ensurdecer. Somos
isto há séculos. O nosso saber, democraticamente distribuído, não vai além da
Cartilha Maternal de João de Deus, embora com um poderoso exército de rapazes,
ainda que improdutivos, com centenas de discursos morais sobre si, os outros e
o País. Temos, por tudo isto, uma boa experiência na preguiça, no ressabiamento
e em declararmo-nos sempre inocentes.
Quando partir, logo se arranjará culpado mais à mão. Vá com
Deus, minha senhora. E se quiser arrumar todas as catilinárias contra si,
compre uns jogadores de futebol. Por uns milhões valentes. O nosso bem-estar é
a alma da bola. E verá que, por aí, será ovacionada à partida. E nós voltaremos
aos tremoços e à imperial, discutindo aquilo que não somos para depois, já
bêbedos, chorarmos a sua partida ao som do faduncho da desgraçadinha.
F. Moita Flores - CM
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